Um dos pontos de maior interesse e incógnita no encontro anual do G20 (grupo das 20 economias mais industrializadas do mundo), que decorre em Buenos Aires entre hoje e sábado, é a forma como o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o da China, Xi Jinping, se relacionarão, quando se reunirem a sós e quando na cimeira a 20 discutirem as relações comerciais a nível global.

Nos últimos dias, Donald Trump provocou uma escalada verbal na guerra comercial, ao anunciar que a atitude intransigente da China levaria os EUA a estenderem o âmbito do incremento de taxas alfandegárias sobre os produtos chineses.

O governo de Pequim reagiu de imediato, anunciando aumentos tarifários sobre produtos oriundos dos EUA, mas também dos países aliados dos norte-americanos.

“Estou preparado para reunir com o Presidente chinês. Toda a vida me preparei para esse encontro”, afirmou na passada semana Donald Trump, a propósito da reunião bilateral em Buenos Aires.

Quinta-feira, minutos antes de voar para Buenos Aires, Trump foi ainda mais ambíguo sobre os resultados desse encontro: “Estamos muito perto de fechar alguma coisa com a China, mas não sei se quero fazê-lo. A China quer um acordo. Mas gosto do acordo que já temos”, disse Trump aos jornalistas nos jardins da Casa Branca.

Nessa mesma ocasião, Trump ainda admitiu que outra reunião importante em Buenos Aires seria com o Presidente russo, Vladimir Putin.

Mas, minutos depois, já dentro do avião presidencial Air Force One, Trump ‘tweetou’ que cancelava esse encontro, por considerar que os incidentes de domingo no estreito de Kerch, após o apresamento pelos russos de três navios ucranianos, tornavam a reunião bilateral inconveniente para todas as partes.

Ainda assim, o conflito entre a Rússia e a Ucrânia será um dos pontos quentes da cimeira, com vários dirigentes a procurarem perceber a posição russa, depois de a Ucrânia já ter pedido reforço militar da Nato na região.

Buenos Aires será o palco do primeiro encontro entre a primeira-ministra britânica, Theresa May, e o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, desde o ataque em Salisbury com agentes químicos que matou Dawn Sturgess, provocando um incidente diplomático com repercussões em todo o mundo.

Na cimeira, muitos olhares se dirigirão ainda para Mohammed bin Salman, herdeiro da coroa da Arábia Saudita, suspeito de autoria moral do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, cuja investigação ainda decorre.

O caso perturba a diplomacia mundial e quinta-feira o Canadá juntou-se aos EUA e Alemanha na decisão de colocar sanções sobre elementos ligados ao governo saudita suspeitos de envolvimento do jornalista.

Para já, estão marcadas duas reuniões bilaterais sobre este tema com Mohammed bin Salman, uma com o Presidente Putin e outra com o Presidente francês, Emmanuel Macron.

“Eu fui sempre muito claro sobre o tema da Arábia Saudita e inevitavelmente terei a oportunidade de o discutir com o príncipe saudita, à margem da cimeira”, disse aos jornalistas Macron, na quinta-feira.

A cimeira vai decorrer debaixo de um forte dispositivo de segurança, depois de vários grupos de ativistas da Argentina e internacionais terem anunciado que se preparam para realizar protestos junto das instalações do encontro.

Criado em 1999, o G20 é um fórum que reúne governos e bancos centrais das 20 maiores economias mundiais (19 países e a União Europeia).

Coletivamente, as economias do G20 representam cerca de 85% da riqueza mundial.

O G20 não tem um pessoal permanente e a sua liderança é rotativa, anualmente, entre nações dividas por grupos regionais.