Com a invasão russa da Ucrânia, em 24 de fevereiro, começou também a guerra da informação acompanhada por campanhas de desinformação em larga escala, propaganda e teorias da conspiração, lançadas sobretudo nas redes sociais.
A equipa de apuramento de dados da televisão pública alemã DW divulgou hoje que, em 2022, analisou principalmente notícias falsas sobre a guerra na Ucrânia, mas também sobre outros temas como saúde ou ambiente.
A equipe do NewsGuard, que há anos está focada na luta contra a desinformação, identificou 311 ‘sites’ que publicam ‘fake news’ pró-Kremlin para justificar a agressão da Rússia no país vizinho.
Um dos temas relacionados com a guerra e alvo de desinformação foram as imagens de civis mortos em Bucha, localidade perto de Kiev, que causaram choque em todo o mundo. Centenas de corpos ficaram nas ruas depois da retirada russa do local no final de março.
Enquanto Kiev acusou a Rússia de um “massacre deliberado”, Moscovo respondeu que as imagens divulgadas tinham sido encenadas, e que os corpos eram apenas atores que até se mexiam. Esta informação espalhou-se rapidamente nas redes sociais, e havia até um vídeo que comprovava a teoria.
Segundo uma análise da DW ao vídeo com o alegado “cadáver em movimento”, a impressão de que a mão do morto se movimenta foi criada por uma gota de água no para-brisas do automóvel que filmou.
Para sustentar a invasão, o Presidente Vladimir Putin descreveu a necessidade de "desnazificação" da Ucrânia, e muitas fotos e vídeos circularam nas redes sociais onde alegadamente mostravam “nazis ucranianas”.
Esta tese foi utilizada como desinformação recentemente no Mundial de futebol no Qatar, depois de um vídeo com o logótipo da emissora de televisão Al Jazeera referir que três ucranianos bêbados tinham sido presos em Doha após espalharem símbolos e fazerem saudações nazis. Quer o canal, quer equipa de verificação de dados da DW provaram que o vídeo era falso, quer pelas imagens serem de arquivo ou as fardas dos polícias não corresponderem aos uniformes usados durante o evento.
No lado contrário, as histórias sobre o chamado “Fantasma de Kiev”, um piloto que alegadamente conseguiu destruir sozinho cerca de 40 aeronaves russas e cuja identidade era segredo, acabaram por ser confirmadas como “uma lenda criada pelos ucranianos”.
Entre os vídeos e imagens falsas divulgadas, destacou-se uma imagem manipulada do misterioso piloto ucraniano, que afinal era um advogado argentino de Buenos Aires.
Na Internet surgiram ainda rumores de que uma clínica de cuidados paliativos na Alemanha fazia tatuagens de Vladimir Putin, Serguei Lavrov ou outros políticos russos em doentes. A DW apurou que as imagens, semelhantes a reportagens deste canal, resultavam de um conjunto de vários vídeos antigos e que continham erros gramaticais ou outras inconsistências.
Um efeito da guerra na Ucrânia é a crise energética que se vive na Europa, dependente da energia russa. Mas a subida dos preços da energia foi utilizada como desinformação, com a televisão estatal russa a descrever, no final de abril, que a Europa estava a regressar à Idade Média, negligenciando mesmo a higiene o que estavam a resultar num problema de parasitas. Oito meses depois, o prognóstico russo não se confirmou e os alertas russos não passaram de propaganda.
Nem só da guerra se alimentaram as ‘fake news’, pois muitos utilizadores nas redes sociais continuam a alimentar a tese de que "não há aquecimento global nem alterações climáticas".
A DW cita os eventos climáticos extremos, como o verão mais quente da Europa, as inundações no Paquistão ou os incêndios florestais nos EUA, lembrando também as conclusões do Consórcio Alemão do Clima de que todas as partes do sistema climático – ou seja, oceanos, gelo, terra, atmosfera e biosfera – aqueceram-se significativamente nas últimas décadas.
Na área da saúde, a decisão durante este ano do Supremo Tribunal dos EUA de que o direito ao aborto não está garantido pela Constituição abriu caminho à proibição deste procedimento em cerca de metade dos Estados. Com esta medida, a desinformação surgiu nas redes sociais, a anunciar que ervas, como a salsa, ou frutas, como o mamão, poderiam ser usados para as mulheres abortarem.
A equipa de verificação de factos da DW apurou que quase não há estudos que tenham investigado este tema de forma suficiente e especialistas alertaram que estes métodos são potencialmente perigosos.
O Mundial de futebol no Qatar gerou muita polémica, devido ao tratamento dos direitos humanos por parte deste país, entre outras questões, onde se incluiu o pagamento a adeptos para viajarem e acompanharem as seleções nos estádios.
As autoridades do Qatar negaram estas acusações em comunicado, mas vários adeptos entrevistados pela DW confirmaram a oferta, explicando que estavam integrados no programa ‘Qatar Fan Leader Network’.
Comentários