Os correios dos Estados Unidos (USPS) anunciaram na terça-feira que deixariam de aceitar encomendas provenientes da China e de Hong Kong, depois de os Estados Unidos terem imposto uma taxa adicional de 10% sobre produtos chineses e terem posto termo a uma exceção aduaneira que permitia a entrada, isenta de taxas, de encomendas de pequeno valor nos Estados Unidos.

O Serviço Postal inverteu a posição na quarta-feira, mas não deu qualquer justificação, afirmando apenas que ia trabalhar com a Alfândega e a Proteção das Fronteiras para implementar um processo de cobrança para as novas taxas impostas sobre bens chineses, a fim de evitar interrupções na entrega.

O que implicaria esta proibição?

A proibição podia criar enormes perturbações para plataformas de comércio eletrónico como a Shein e a Temu, populares entre os consumidores mais jovens nos Estados Unidos pelo vestuário barato e outros produtos, normalmente enviados diretamente da China.

O serviço postal direto e barato ajuda estas empresas a manter os custos baixos, tal como a isenção que anteriormente permitia que os envios fossem isentos de impostos se o valor fosse inferior a 800 dólares (770 euros).

A suspensão por parte da USPS teria provavelmente provocado atrasos nos envios e preços potencialmente mais elevados para as empresas que dependem de preços muito baixos para efetuar vendas.

O que se sabe sobre a revogação da medida?

Um dia depois de o Serviço Postal dos EUA ter anunciado que deixaria de aceitar encomendas provenientes dos Correios da China e de Hong Kong até nova ordem, afirmou na quarta-feira que “continuaria a aceitar todo o correio e encomendas internacionais provenientes da China e de Hong Kong”.

As cartas e os pacotes – correio que mede até 38 centímetros de comprimento ou 1,9 centímetros de espessura – não foram incluídos na breve proibição.

A isenção foi removida como parte de uma ordem executiva para cobrar uma taxa de 10% sobre todos os produtos oriundos da China.

A Alfândega e Proteção das Fronteiras dos EUA disse anteriormente que processa uma média de mais de quatro milhões de encomendas oriundas da China por semana.

Trump tem mão nisto?

O USPS não deu uma razão para a proibição na terça-feira, mas a suspensão veio depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, abolir a isenção alfandegária para produtos de baixo valor esta semana.

De acordo com as novas taxas impostas por Trump, os analistas dizem que os consumidores provavelmente verão aumentos de preços e possíveis atrasos nos envios de empresas como a Shein e a Temu.

Os EUA importaram cerca de 427 mil milhões (410 mil milhões de euros) em mercadorias da China em 2023, o ano mais recente com dados completos, de acordo com dados oficiais.

Com reagiram a China e Hong Kong a tudo isto?

A China acusou os Estados Unidos de "reprimirem" as suas empresas depois da medida anunciada.

"Pedimos aos Estados Unidos que parem de politizar e instrumentalizar questões comerciais e económicas" e "reprimir irracionalmente as empresas chinesas", disse o porta-voz da diplomacia chinesa Lin Jian, que pediu "diálogo".

Além disso, quando Washington anunciou tarifas adicionais de 10% sobre todos os produtos chineses, uma medida que desencadeou uma nova guerra comercial entre as duas potências, Pequim respondeu imediatamente com o anúncio de impostos sobre uma série de produtos americanos, de petróleo a máquinas agrícolas.

Por sua vez, os Correios de Hong Kong suspenderam o envio de "artigos postais com mercadoria" para os Estados Unidos, horas depois do Serviço Postal norte-americano deixar de aceitar as suas encomendas.

Num comunicado divulgado na quarta–feira à noite, os Correios disseram que só irão enviar pacotes ou encomendas que os clientes tenham registado junto da Alfândega e a Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

Esse registo “exige os documentos de importação necessários e o pagamento de taxas feito através de um despachante aduaneiro”, sublinharam os Correios de Hong Kong.

Pouco depois de tomar posse, o novo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, eliminou especificamente uma isenção tarifária para produtos de baixo valor, adquiridos diretamente por consumidores e enviados através do serviço postal.

Essa isenção abrangia artigos de valor inferior a 800 dólares (770 euros).

Todos os pacotes e encomendas que cheguem aos Estados Unidos sem pagar as taxas “serão devolvidos a Hong Kong”, sublinharam os Correios do território.

“Os serviços de envios postais que contenham apenas documentos não serão afetados”, acrescentaram os Correios de Hong Kong.

Também num comunicado divulgado na quarta-feira à noite, o Governo de Hong Kong expressou “uma forte condenação” da decisão dos Estados Unidos no que diz respeito ao aumento de tarifas, que “ignora o facto básico de que Hong Kong é um território aduaneiro separado” da China continental.

“Tomaremos todas as medidas possíveis para defender os nossos interesses legítimos, incluindo considerar levar o assunto à OMC [Organização Mundial do Comércio]”, disse um porta-voz das autoridades da região semiautónoma chinesa.

*Com agências