“Vou ser direto. Os principais elementos da arquitetura internacional de controlo de armas estão a desmoronar-se”, declarou Guterres, numa conferência sobre desarmamento realizada em Genebra (Suíça) sob os auspícios da ONU.
“Precisamos de uma nova visão sobre o controlo de armas no âmbito do atual e complexo contexto da segurança internacional”, disse o secretário-geral da ONU.
O ex-primeiro-ministro português lamentou que os Estados estejam a procurar “segurança” não através da diplomacia, mas sim “com o desenvolvimento e com o amontoar de novas armas”.
“A situação é particularmente perigosa em relação às armas nucleares”, avisou o representante.
Durante a intervenção, António Guterres mencionou diretamente o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermédio (INF, na sigla em inglês), um acordo nuclear histórico que foi firmado entre os Estados Unidos e a Rússia em 1987 durante a Guerra Fria e que recentemente foi denunciado pelos dois países.
Washington decidiu sair do INF, afirmando que a Rússia tinha infringido as regras do tratado.
Em reação, Moscovo fez o mesmo, denunciando “acusações imaginárias” por parte dos Estados Unidos para justificar a saída do acordo.
Apesar desta troca de acusações, os termos atuais do acordo iam expirar em agosto próximo.
Assinado por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, então Presidentes dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, respetivamente, o tratado INF aboliu o recurso a um conjunto de mísseis de alcance (intermédio) entre os 500 e os 5 mil km e pôs fim à crise desencadeada na década de 1980 com a instalação dos SS-20 soviéticos, visando capitais ocidentais.
“O desaparecimento do tratado INF (…) tornará o mundo menos seguro e mais instável. E essa insegurança e instabilidade serão fortemente sentidas aqui na Europa”, declarou Guterres.
E reforçou: “Simplesmente, não nos podemos dar ao luxo de regressar à competição nuclear desenfreada dos dias mais sombrios da Guerra Fria”.
O secretário-geral da ONU aproveitou a intervenção para lançar um apelo “às partes do tratado INF” para que usem o tempo que resta para mostrarem empenho “num diálogo sincero” sobre os vários pontos de divergência.
“É muito importante que este tratado seja preservado”, insistiu o representante, pedindo ainda que Moscovo e Washington prolonguem os termos de outro tratado, o New START, assinado em 2010 (entrou em vigor em fevereiro de 2011) e que limita a produção de armas nucleares.
O tratado New START expira em 2021.
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