Assinalando o Dia Internacional contra os Testes Nucleares, Guterres defendeu que o mundo deve finalmente colocar em prática uma “proibição legalmente vinculativa” de todos os testes nucleares.
“O Dia Internacional Contra os Testes Nucleares representa um reconhecimento global dos danos catastróficos e persistentes causados em nome da corrida às armas nucleares. É uma maneira de lembrar aqueles que sofreram por causa da loucura da intemperança atómica”, disse o secretário-geral, num comunicado.
O Dia Internacional contra os Testes Nucleares assinala-se anualmente a 29 de agosto, com vista a alertar a consciência pública para os efeitos nefastos destes testes ou para qualquer explosão ou experiência nuclear.
Foi proclamado pela Assembleia-Geral da ONU em 02 de dezembro de 2009.
“Com os riscos nucleares a atingir novos patamares, agora é a hora de o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares entrar em pleno vigor, sustentado por um sistema de verificação eficaz. As armas nucleares não têm lugar no nosso mundo. Não garantem vitória ou segurança. Por definição, o seu único resultado é a destruição”, sublinhou.
As declarações do líder das Nações Unidas surgem num momento em que aumentam as preocupações em redor da central nuclear ucraniana em Zaporijia, no sudeste da Ucrânia.
Esta central, a maior da Europa, foi tomada pelas forças russas cerca de duas semanas depois do início da ofensiva militar de Moscovo contra o país vizinho, em 24 de fevereiro.
Desde então, Ucrânia e Rússia têm trocado acusações sobre ataques realizados contra Zaporijia.
Este cenário tem suscitado grandes preocupações junto da comunidade internacional, que tem alertado para a iminência de um potencial desastre nuclear.
As declarações de Guterres surgem igualmente no dia da partida de uma missão de peritos internacionais da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), órgão que integra o sistema da ONU, para a central nuclear ucraniana de Zaporijia.
“Das estepes do Cazaquistão às águas cristalinas do Oceano Pacífico e aos desertos da Austrália, os testes nucleares há muito envenenam o ambiente natural do nosso planeta e as espécies e pessoas que o chamam de lar. (…) O nosso mundo foi refém destes dispositivos da morte por tempo suficiente”, prosseguiu Guterres.
“Neste dia importante, peço ao mundo que aja pela saúde e sobrevivência das pessoas e do planeta. Vamos garantir o fim dos testes agora e para sempre, e consignar as armas nucleares à história, de uma vez por todas”, apelou.
No passado sábado, Guterres mostrou-se dececionado com o fracasso da conferência de revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP), que terminou na sexta-feira sem acordo, apontando que a falta de consenso ameaça a segurança coletiva.
No final de quase um mês de discussões, e depois de várias horas de um prolongado debate à procura de um consenso, a conferência encerrou na sexta-feira sem a adoção de um documento final devido às objeções russas.
A Rússia bloqueou o acordo na 10.ª conferência de revisão do tratado, sobretudo em questões ligadas à invasão da Ucrânia e à ocupação da central nuclear de Zaporijia.
A delegação de Moscovo foi a única a tomar a palavra na sessão final para se opor ao último projeto do documento apresentado pelo presidente da conferência, o argentino Gustavo Zlauvinen, e que os restantes 191 signatários do TNP estavam dispostos a aceitar.
A Rússia alegou que, de todo o extenso documento, só tinha objeções em relação a cinco parágrafos por considerar que tinham sido “politizados”.
Apesar de a delegação russa não ter indicado quais os parágrafos da discórdia, fontes diplomáticas disseram que as divergências, surgidas à última hora, centraram-se nas referências à situação na central nuclear ucraniana em Zaporijia e na necessidade de o controlo do complexo ser devolvido às autoridades competentes.
Embora a guerra na Ucrânia tenha tornado esta reunião particularmente complicada, não é a primeira vez que a revisão periódica do TNP é encerrada sem consenso, como aconteceu na última edição, realizada há sete anos.
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