E é isso mesmo que se tem tornado uma tendência, o bem estar daquele que é considerado ainda hoje como o melhor amigo do homem, o cão. “Sim, nos últimos anos temos recebido muitos pedidos de ajuda. As pessoas começam a tratar e pensar nos animais de uma outra forma, sobretudo aqueles que não têm filhos. Nós recebemo-los bem cedo e entregamos ao final do dia, quando os donos chegam a casa”, começa por dizer ao SAPO24 Daniel Pêro, um profissional desta arte.
“Tinha uma loja de animais, mas acabei por dedicar-me a isto a 100%. Cuido de mais de 100 animais por mês e cada vez mais tenho a agenda cheia”, salientou o cuidador que foi um dos que já participou na Dog Summit de Portugal.
Sim, Dog Summit. Se Paddy Cosgrave trouxe a Web Summit para Portugal, a tal tendência canina fez com que alguns apaixonados por cães criassem a Dog Summit.
“É um projeto pioneiro em Portugal com a missão de educar e consciencializar todos os amantes de cães sobre práticas de treino positivo e bem-estar animal. Realizamos eventos de formação em parceria com municípios e construímos também a primeira academia online de treino canino que funciona com uma subscrição anual, ou compra de cursos avulso”, salienta ao SAPO 24 Cristina Pena, co-fundadora da Dog Summit, descrevendo depois como funcionam este tipo de seminários.
“As Seminars Sessions da Dog Summit, são eventos pontuais que ocorrem em parceria com alguns municípios em Portugal. Estes eventos permitem um apoio mais próximo junto do canil municipal, sobretudo na compreensão de algumas fragilidades na gestão e manuseamento dos animais. Um dos nossos objetivos é apoiar estes canis, para que se consiga trabalhar a montante muitos dos desafios que os tutores encontram no processo de adoção dos animais", diz, referindo depois o que, na sua opinião, são os aspetos mais interessantes destes seminários.
"O facto de funcionarem a 360º, ou seja, o público alvo são amantes de cães que aprendem através de seminários e workshops, associações de animais que conseguem promover o seu trabalho junto de um público qualificado que está disposto a aprender para melhorar o bem-estar dos animais, expositores locais da área pet que conseguem promover os seus produtos e estabelecer parcerias, e claro, os canis municipais que têm acesso a formação na área de treino canino para conseguirem mitigar fragilidades internas”, disse, confirmando que já em março deste ano esgotaram a sala com “cerca de 150 participantes”, isto já depois de um outro, em Braga, no dia 7 de março de 2020, antes da pandemia, quando também tinham “esgotado o Espaço Vita com cerca de 400 participantes.
“Desde a conceção do projeto que realizamos eventos formativos em parceria com municípios e já impactamos mais de 3500 tutores e profissionais da área animal”, diz.
Daniel Pêro, treinador especializado, de Lisboa, foi então um dos que já marcou presença na Dog Summit. Ao SAPO24 refere a importância destas experiências. “É algo inovador, sem dúvidas. Há muitos cursos, muitas coisas sobre animais, mas esta é específica e muito bem estruturada. É um encontro de profissionais empenhados que querem aprender mais, tomar conhecimento de coisas novas, ver novos artigos, etc. Por norma fazemos muitas pesquisas na internet, YouTube, de forma a ter mais conhecimento do que se passa nesta mundo canino a nível mundial e esta Dog Summit traz-nos isso quase tudo, é de elogiar, sem dúvida”, afirmou.
"As Seminars Sessions da Dog Summit, são eventos pontuais que ocorrem em parceria com alguns municípios em Portugal. Estes eventos permitem um apoio mais próximo junto do canil municipal, sobretudo na compreensão de algumas fragilidades na gestão e manuseamento dos animais. Um dos nossos objetivos é apoiar estes canis, para que se consiga trabalhar a montante muitos dos desafios que os tutores encontram no processo de adoção dos animais"Cristina Pena
A ideia, então, de criar a Dog Summit surge com o facto de haver cada vez mais pessoas a procurar 'ajuda' para os seus animais. Qual a razão? A resposta é muito simples.
“Todos nós queremos que o nosso cão se sinta bem no seio familiar e é importante, enquanto tutores, queremos que eles se integrem no nosso dia-a-dia. Isso requer que os tenhamos que expor a diferentes ambientes, pessoas e animais, de forma controlada e passiva”, diz Cristina Pena, especificando depois a aposta das pessoas em treinadores.
“Têm conhecimento especializado sobre o comportamento canino, ou seja, entendem as necessidades, instintos e linguagem corporal dos cães. Isso torna-os capazes de identificar e corrigir comportamentos indesejáveis que, muitas vezes, os tutores não conseguem identificar. O que ocorre muitas vezes é que muitos tutores enfrentam problemas comportamentais específicos como a agressividade, ansiedade por separação, ladrar excessivo, dificuldade em treino básico. Estes são os problemas mais recorrentes, daí ter surgido a necessidade de criarmos uma academia online onde as pessoas conseguem mitigar esses problemas, aplicando métodos de treino de forma eficaz nos seus cães”, afirma a especialista, salientando depois que a falta de tempo dos donos e tutores também obriga a que estes contratem os tais treinadores.
“Eles aceleram a curva de aprendizagem de qualquer método de treino que um tutor queira aplicar. Todos nós, enquanto tutores, temos o nosso dia-a-dia preenchido com inúmeras atividades e treinar um cão requer tempo, consistência e paciência. Por isso, muitas vezes precisamos de um treinador ao nosso lado que assuma o papel de nos guiar e dar a mão na jornada que é treinar um cão. É importante referir que ao contrário do que muitas pessoas pensam, o treino canino é para o tutor, ou seja, é o tutor que irá treinar o cão no seu dia-a-dia. O que acontece com muita frequência é o treinador ensinar o cão comandos básicos, e o cão apenas cumprir quando está na presença do treinador. Este é um dos erros que mais afeta as famílias portuguesas que se sentem depois frustradas em não conseguirem treinar o seu cão. Tudo começa no tutor. O tutor é a chave para um cão alcançar uma maior felicidade e longevidade. E o treinador é quem dá a mão e guia e reforça o vínculo entre tutor e cão”, refere.
"As creches, day cares (cuidados diurnos) e ATL (atividades de tempos livres) para cães são conceitos que têm ganhado popularidade em várias partes do mundo, incluindo países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália. Embora possa parecer novo em Portugal, estas opções de cuidados para cães já são comuns em muitos lugares, nomeadamente nos grandes distritos portugueses"
Como profissional, Daniel Pêro assina por baixo as declarações de Cristina Pena. “Somos os professores, é assim que encaro esta profissão. Há crianças que passam o dia todo nas escolas a aprender, estes animais passam pelo mesmo. Os donos quando chegam a casa não têm tempo para muita coisa, por isso, aqueles que realmente gostam dos seus animais, dão-nos a confiança de ensinar os seus amigos de quatro patas. É uma responsabilidade muito grande”, afirma.
Creche, day care e até ATL
Treinadores de animais há-os há muitos anos. Antes era o simples cuidado de tentar ensiná-los a respeitar o dono, agora tudo mudou. Há quem olhe para o seu cão como um verdadeiro membro da família, com todas as regalias que, por exemplo, uma criança tem.
“As creches, day cares (cuidados diurnos) e ATL (atividades de tempos livres) para cães são conceitos que têm ganhado popularidade em várias partes do mundo, incluindo países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá e Austrália. Embora possa parecer novo em Portugal, estas opções de cuidados para cães já são comuns em muitos lugares, nomeadamente nos grandes distritos portugueses. São soluções cómodas para qualquer tutor ou família que não consiga estar durante o dia com o seu cão, o que permitirá ao mesmo construir elos de ligação com outros cães e pessoas e até colmatar alguma ansiedade por separação que possa ter com o seu tutor”, confessa Cristina Pena, revelando depois que além-fronteiras este tipo de conceitos está muito mais avançado.
“Em 2016, antes de ser criada a Dog Summit, estudamos muito o mercado pet a nível mundial e observamos que os cães eram considerados membros da família e que por isso, eram desenvolvidas cada vez mais atividades para acompanharem a evolução da relação entre tutor e cão. Serviços como treino animal, pet sitting, dog walker e infraestruturas como creches e parques caninos eram usuais nestes países e por isso o nossos primeiros projetos foi o Dog Park, um projeto que nasceu em 2016 e que tinha como objetivo a criação de uma rede de parques caninos em parceria com alguns municípios em Portugal”, diz, salientando depois que a perceção dos portugueses para com os cães tem mudado.
"O custo da creche para cães também pode variar com base na localização e nos serviços oferecidos. Em média, os preços podem variar entre 15€ e 40€ por dia. Alguns lugares também oferecem pacotes mensais que ajudam a reduzir o valor diário"
“Desde cedo conseguimos perceber que nessa altura, em Portugal, o nível de consciência e sensibilização para o bem-estar animal era muito primário. Os animais em Portugal ainda eram vistos principalmente como guardiões, trabalhadores ou com finalidades específicas, e não usufruiam do mesmo nível de envolvimento emocional ou de investimento financeiro, que noutras culturas já era algo mais presente. Contudo, ao longo dos últimos anos, Portugal têm dado passos largos nas práticas de bem-estar animal, existe uma maior consciência sobre o papel dos animais na vida das pessoas, e por isso temos observado um crescimento de serviços e infraestruturas que acompanham este interesse em fornecer uma vida mais enriquecedora e equilibrada para os animais de estimação.”.
Todos estes 'luxos', contudo, não são, infelizmente, para as carteiras de todos.
“O custo mensal de ter um tratamento completo para o cão, incluindo algum curso, creche, treino e outros serviços, pode variar significativamente dependendo de vários fatores, como localização geográfica, nível de serviço desejado, tipo de animal, duração do tratamento, entre outros. Os cursos para tutores, como aulas de treino, workshops de socialização e orientação comportamental personalizada, podem ter custos variados. Em média, os valores rondam entre 50€ e 150€ por sessão ou aula. O número de sessões a realizar dependerá das necessidades específicas do cão e dos objetivos de treino. O custo da creche para cães também pode variar com base na localização e nos serviços oferecidos. Em média, os preços podem variar entre 15€ e 40€ por dia. Alguns lugares também oferecem pacotes mensais que ajudam a reduzir o valor diário. Além disso, outros serviços, como pet sitting, passeios diários, serviços de banho e tosquia, podem ser adicionados aos custos mensais. Esses preços também podem variar, mas rondam em média de 10€ a 30€ por serviço, dependendo da localização e dos requisitos específicos”, refere.
A 'ajuda' do PAN
Os direitos dos animais há muito que são defendidos, mas em Portugal ganharam trunfos quando da criação do PAN, um partido político que ganhou assento parlamentar e que defende causas, os direitos humanos, dos animais e da natureza. Foi, dizem os especialistas, fundamental para a ainda maior consciencialização das pessoas.
“Foi uma voz dos animais no parlamento e na vida política, não temos dúvidas. Era algo que já acontecia lá fora e foi muito importante para causas que eram defendidas há muitos anos. Admito que se começou a olhar para os animais de uma outra forma. Há ainda muita coisa a fazer, mas é uma arma dos animais, sem dúvida”, referiu Daniel Pêro.
Cristina Pena elogia também a criação do PAN, mas também o trabalho feito pela ONU e algumas ONG. “O PAN e outros movimentos de defesa dos direitos dos animais têm contribuído para colocar essas questões na agenda política e promover debates e discussões sobre a proteção animal. Isso tem levado a uma maior consciência e envolvimento da sociedade civil no que do respeito à importância dos cuidados e tratamento dos animais, incluindo os cães. Mas esta mudança de atitude em relação aos animais não se limita apenas à influência de um partido político. Há uma tendência global de aumento da consciência sobre o bem-estar animal e dos direitos animais em várias partes do mundo. Essa consciencialização tem sido impulsionada por vários fatores, como por exemplo a promoção dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a divulgação de casos de crueldade animal por parte de ONG’s , associações animais etc, observando-se também um desejo crescente das pessoas tratarem os animais com compaixão e respeito”, concluiu.
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