
O relatório é baseado especialmente em entrevistas com 31 famílias de trabalhadores que morreram nas obras de 'megaprojetos', procedentes de Bangladesh, Índia e Nepal, com idades entre 23 e 52 anos. A organização também ouviu os depoimentos de três testemunhas diretas de acidentes fatais.
"Muitos trabalhadores migrantes na Arábia Saudita morreram em acidentes de trabalho que poderiam ter sido evitados", afirma o relatório.
"A maioria das mortes não é caracterizada como acidente de trabalho, o que priva as famílias de indemnizações. E quando isso é possível, o processo para receber a indemnização é longo e exaustivo", destaca a organização não governamental.
"Aconteceram eletrocussões, decapitações, esmagamentos: a Arábia Saudita tem um ambiente de trabalho extremamente perigoso", disse Michael Page, diretor adjunto da HRW para o Médio Oriente e o Norte da África, durante uma videoconferência de imprensa.
A exposição prolongada ao calor, à areia e à poeira, as leis existentes mas que não são aplicadas, a inexistência de liberdade de expressão, sindical ou de imprensa "deveriam ter feito soar o alarme na Fifa" no momento de atribuir a sede do Mundial, acrescentou.
"O balanço de mortos não é conhecido, já que nenhuma instituição pode documentá-los", destacou Ambet Yuson, secretário-geral da Federação Internacional dos Sindicatos de Trabalhadores da Construção e da Madeira (BWI), colaborador da HRW.
"Chega de megaprojetos, cidades inteligentes, do Mundial na Arábia Saudita sobre os ombros de trabalhadores mortos", disse.
As equipas da BWI foram impedidas de entrar no território saudita para investigar, assim como já havia acontecido no Qatar antes do Mundial o de 2022, um paralelo destacado pelos autores do relatório.
Na Arábia Saudita, um primeiro imigrante que trabalhava numa obra vinculada ao Mundial de 2034 morreu em abril, segundo a HRW.
Nicholas McGeehan, fundador e dirigente da FairSquare, uma ONG de defesa dos direitos humanos, foi contundente: "É quase certo que milhares de trabalhadores morrerão, diretamente ligados ao Mundial, e isso é inaceitável".
Segundo Michael Page, "a Fifa é responsável pela supervisão das construções dos estádios, mas também pelo desenvolvimento das infraestruturas necessárias para receber a competição".
Numa carta enviada em 18 de abril à HRW, a Fifa afirmou que garante "uma forte proteção aos trabalhadores" empregados "na construção das sedes" do Mundial de 2034 e lembrou o compromisso da candidatura saudita de colaborar estreitamente com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
"Embora seja necessário examinar mais de perto os problemas, também consideramos que merecem ser reconhecidos os esforços sinceros para melhorar a situação", escreveu o secretário-geral da Fifa, Mattias Grafström, na carta.
O dirigente também lembrou as melhorias desde 2018 na "mobilidade dos trabalhadores", a proteção dos salários, a padronização dos contratos de trabalho e "o fortalecimento das exigências em termos de saúde e segurança no trabalho".
Assim como aconteceu com o Qatar, a Fifa está "convencida" de que as medidas implantadas nas obras do Mundial de 2034 "podem estabelecer um novo padrão para a proteção dos trabalhadores no país e contribuir para um processo mais amplo de reforma trabalhista".
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