“Entendo que, face àquilo que é a realidade da Área Metropolitana de Lisboa (AML), [as medidas] são positivas. O tempo dirá se são ou não suficientes. Mas, no imediato, temos mais instrumentos para colocar mais casas no mercado do arrendamento, para combater a especulação, para apoiar as famílias, para simplificar os processos de licenciamento. Também ficamos nós, autarquias, com instrumentos que nos permitem aumentar a oferta de imóveis para habitação”, afirmou Carla Tavares (PS).
A também presidente da Câmara Municipal da Amadora, no distrito de Lisboa, falava à agência Lusa a propósito do pacote de medidas apresentados na quinta-feira pelo primeiro-ministro, António Costa, estimado em 900 milhões de euros, para responder à crise da habitação em Portugal.
As medidas estão inseridas no programa Mais Habitação e têm cinco eixos de atuação: aumentar da oferta de imóveis utilizados para fins de habitação, simplificar os processos de licenciamento, aumentar o número de casas no mercado de arrendamento, combater a especulação e proteger as famílias.
O programa Mais Habitação foi aprovado em Conselho de Ministros e ficará em discussão pública durante um mês. As propostas voltarão a Conselho de Ministros para aprovação final, em 16 de março, e depois algumas medidas ainda terão de passar pela Assembleia da República, segundo o primeiro-ministro.
No entendimento da presidente do Conselho Metropolitano de Lisboa, este pacote “permite ter medidas mais musculadas” e ajudar à concretização de medidas previstas nas Estratégias Locais de Habitação (ELH), assim como agilizar processos burocráticos.
“Estes são também instrumentos facilitadores para os municípios e para que a celeridade dos processos de execução do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) se tornem de facto reais e que consigamos aqui, os 18 municípios em conjunto, encontrar também formas de ajudar a simplificar e a facilitar todos estes processos do PRR”, argumentou.
Carla Tavares destacou também o facto de as medidas anunciadas preverem a disponibilização no mercado de arrendamento das casas devolutas, que no caso da AML a autarca estima que sejam cerca de 160 mil, e de irem no sentido de “tranquilizar os senhorios”.
“Regular o mercado de arrendamento, incentivar e tranquilizar os senhorios para que ganhem confiança também, numa participação coletiva do Estado central e do Estado local, relativamente à habitação, parece-nos ser um instrumento importante. Esperamos que permita encontrar e otimizar para os desígnios da habitação os fogos que estão disponíveis no mercado. E há, de facto, muitos fogos disponíveis, até porque o valor do fogo não é muitas vezes o do alojamento, o da habitação”, apontou.
Relativamente às medidas previstas para limitar o alojamento local (AL), a autarca defendeu a necessidade de regular esta atividade, argumentando que se trata de uma altura “absolutamente excecional”.
Segundo anunciou o primeiro-ministro, as emissões de novas licenças de alojamento local “serão proibidas”, com exceção dos alojamentos rurais em concelhos do interior do país, onde poderão dinamizar a economia local.
As atuais licenças “serão sujeitas a reavaliação em 2030” e, depois dessa data, periodicamente, de cinco em cinco anos.
“O alojamento local não pode originar que muitas vezes as pessoas sejam forçadas a sair da sua zona de residência, por via de um aumento exponencial. Por isso, vejo de forma positiva o facto de o alojamento local ser mais regulado, numa altura que é “absolutamente excecional. Quando somos confrontados com desafios diferentes também se tem de agir de forma diferente”, justificou.
Questionada sobre o facto de estas medidas não poderem pôr em causa o turismo na região de Lisboa, Carla Tavares contrapôs, lembrando que a região dispõe de “uma excelente oferta hoteleira”.
“Nós temos, felizmente, uma excelente oferta hoteleira nesta Área Metropolitana. O turismo é muito importante, naturalmente, como fator económico e de desenvolvimento do país, mas o turismo não pode prevalecer sobre aquilo que são os direitos das pessoas e de um direito essencial que é o direito à habitação”, sublinhou.
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