
No seu novo livro, "A Herança Nazi", aponta uma “onda de normalização” que persiste há anos no modo como se lida com a barbárie nazi, na qual se nega a singularidade dos crimes do regime. Com o desaparecimento das testemunhas oculares, o que aconteceu vai sendo cada vez mais apagado da memória coletiva.
Sim, muitos alemães querem hoje pôr um ponto final na questão. Não querem, oitenta anos após o fim da guerra, continuar a falar sobre o assunto, nem ser lembrados daquilo que os seus pais e avós vivenciaram, permitiram e apoiaram: uma ditadura nacional-socialista, o delírio de grandeza de Hitler e as suas guerras.
Uma repressão e relativização da barbárie nazi manifesta-se em inúmeras sondagens atuais. O lema: também nós fomos vítimas!
De facto. No meu livro, descrevo com inúmeros exemplos as tentativas fracassadas ou simplesmente inexistentes de perseguir judicialmente os crimes da justiça nazi por parte do sistema judicial da República Federal. Assim, a maioria dos ex-juristas nazis – inclusive os responsáveis por sentenças de morte – pôde continuar as suas carreiras após o fim da guerra. O mesmo aconteceu com as elites dirigentes da economia, da ciência e da administração. Grande parte dos alemães compreendia essa situação – com a justificação frequente de que também eles foram vítimas da guerra, da expulsão e da miséria. Uma realidade difícil de suportar. Um povo em fuga do seu passado. Após a guerra, ninguém queria carregar o fardo da injustiça herdada – e quase ninguém teve de o carregar. O primeiro chanceler da República Federal, Konrad Adenauer, apoiou os alemães nesta atitude defensiva. Agora, todos eram sobretudo vítimas. Vítimas do tempo, do partido, de Hitler, e por aí fora.
Mudou algo nessa postura?
A partir dos anos 70, sobretudo sob o governo social-democrata, começou finalmente um confronto consequente com o período nazi – na política, nas universidades, nas escolas, nos meios de comunicação e no debate público. Enfrentou-se o próprio passado.
Mas ainda hoje, muitos alemães mantêm a distorcida fórmula de que os alemães também foram «vítimas de Hitler», que o Terceiro Reich foi sobretudo obra de um bando de criminosos – e que o povo comum não pode ser responsabilizado de forma generalizada...
Uma variante curiosa, mas frequentemente encontrada, que serve de autojustificação não só a partidos e políticos de direita, mas também a muitos membros da geração atual. O conhecimento sobre as guerras de Hitler, sobre a perseguição e o assassinato de todos os opositores, sobre a singularidade do Holocausto – é assustadoramente escasso. Especialmente entre os jovens.
Existe uma responsabilidade para esta geração jovem?
A questão que permanece é: estará a geração atual, politicamente e moralmente inocente, definitivamente dispensada do confronto com a ditadura nazi e o seu legado? Ou: não começa a responsabilidade das gerações seguintes com a pergunta sobre se querem ou não lembrar-se?
O meu livro entende-se como um apelo contra qualquer forma de banalização ou relativização do passado nazi. O passado nazi não prescreve. Há uma obrigação: a da memória.
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