Num tom de cumplicidade, os chefes de Governo dos dois países e a presidente da Fundação José Saramago, Pilar del Rio, evocaram a obra de Saramago e o reforço de uma união ibérica, para o qual o escritor português contribuiu.
Pedro Sánchez começou a sua intervenção, no final de uma visita à Fundação César Manrique e à casa de José Saramago, afirmando ter a “certeza de que José Saramago estaria muito feliz de ver juntos os primeiros-ministros de Portugal e Espanha”.
“Nesta ilha permanecem as recordações mais visíveis”, assinalou, sublinhando, contudo, que “o prestígio e a memória de Saramago transcendem qualquer limite geográfico”.
Também o primeiro-ministro português afirmou que “Saramago continua a representar um inestimável traço da relação entre Portugal e Espanha”.
Para António Costa, José Saramago é um dos “laços importantes” que unem Portugal e Espanha e o facto de o escritor ter vivido em Lanzarote “durante 17 anos com Pilar, reforçou muito essas relações”.
“Agora, quando recordamos este Nobel de Saramago, que foi o primeiro Nobel de qualquer escritor de língua portuguesa, procuramos prestar homenagem a toda a cultura e a todos aqueles que continuam a criar e a todos aqueles que inspiraram a criação de Saramago”, salientou em declarações aos jornalistas.
Durante a sua intervenção, António Costa evocou o ano de 1986, em que Portugal e Espanha se uniram à comunidade europeia e em que José Saramago escreveu “A jangada de Pedra”, no qual a península se despega da Europa e vai navegando para o sul.
“O autor estaria longe de imaginar que sete anos mais tarde se iria realizar parte da utopia, ao instalar-se na ilha de Lanzarote”, disse.
Na opinião do primeiro-ministro, o facto de o escritor se ter encontrado e vivido com Pilar del Rio em Lanzarote e de ali ter escrito uma boa parte das suas obras é prova de que a distância nunca foi um impedimento para a proximidade e para a construção.
“Lanzarote foi de algum modo a forma que Saramago encontrou de realizar a utopia da jangada de pedra, mas a jangada de pedra não é uma forma de nos afastarmos da Europa, é uma forma de continuarmos a ser europeus, não esquecermos o que fomos sempre ao longo da nossa história e de como este mundo é um mundo aberto”, considerou.
Esta é uma mensagem “particularmente importante, nesta altura em que estamos com muros e a criar barreiras, de se perceber como para nós, como para os espanhóis, os mares nunca foram fator de distância e afastamento, pelo contrário, foram sempre forma de aproximar culturas”, afirmou o primeiro-ministro.
A sua ligação de amizade com Pilar del Rio – que tinha sido referida pela presidente da Fundação Saramago como “uma mão no ombro que reconforta em momentos duros” – também foi apontada por António Costa.
“Para mim é uma grande emoção, tinha estado na inauguração da biblioteca, tive a oportunidade de poder contribuir para que a Fundação José Saramago esteja na Casa dos Bicos, as cinzas depositadas no campo das cebolas, com terra de Lanzarote e debaixo de uma oliveira que veio de Azinhaga do Ribatejo”, disse.
Estes são os três lugares onde, durante o fim de semana, José Saramago vai ser homenageado e que começou hoje com a visita a Lanzarote e prossegue no domingo com a visita à Azinhaga do Ribatejo, terra onde o escritor nasceu e viveu os primeiros anos da sua vida.
“Vamos homenagear Saramago, porque a vida de Saramago é a vida dos lugares que ele foi transformando como seus e que seguramente estão presentes na sua obra”, afirmou António Costa.
A visita do primeiro-ministro começou pela Fundação César Manrique, seguida de uma visita à casa onde viveu José Saramago, com uma paragem especial no jardim, debaixo da árvore onde o escritor se sentava, na sua cadeira, ao fim da tarde a ver o mar.
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