Cerca das 09:00, a equipa do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHLN), constituída por cinco médicos, três enfermeiras, um técnico administrativo e um técnico informático, chegou à prisão, onde estavam à sua espera dezenas de reclusos que aguardavam pacientemente a sua vez para serem observados.
No gabinete de enfermagem, os reclusos fizeram a colheita de sangue para análise, pesaram-se e realizaram um exame, denominado Fibroscan, que avalia o estado do fígado, seguindo depois para a consulta médica para iniciar o tratamento, no âmbito do programa “Eliminar a Hepatite C nos Estabelecimentos Prisionais até 2020”, estabelecido entre os ministérios da Saúde e da Justiça
“É um projeto do Governo de ligação dos hospitais às prisões com o objetivo de tratar a hepatite C” nesta população, onde o risco e a prevalência da infeção são mais elevados, disse à agência Lusa o coordenador da equipa e diretor do Serviço de Gastrenterologia do CHLC, Rui Tato Marinho.
No fundo, “é trazer o hospital à comunidade”, facilitando o acesso aos cuidados de saúde e beneficiando as duas instituições. Em duas manhãs poupam-se cerca de 200 deslocações entre a prisão e o hospital para fazer exames ir à consulta, bem como a mobilização de vários guardas prisionais, cerca de 600.
Por outro lado, também se humanizam os cuidados, explicou o médico.
“Para nós, é um bocado traumático atender os presos no hospital, muitas vezes algemados, com os guardas”, uma situação que causa “sempre algum distúrbio no sistema hospitalar e até na prisão”, contou.
Detido há dois anos e oito meses no Estabelecimento Prisional de Lisboa, um jovem recluso disse à Lusa que ficou “muito satisfeito” quando foi informado que podia ser observado por profissionais de saúde na prisão.
“Disse logo que sim, porque quero saber como está minha saúde”, disse o jovem, minutos antes de ser chamado pelas enfermeiras que, durante a recolha de análises, iam respondendo às dúvidas e questões levantadas pelos reclusos e explicavam em que consiste o tratamento.
Esta iniciativa “incorpora uma nova abordagem à doença e ao doente e um conceito inovador quer na forma, a deslocação de uma equipa multidisciplinar a um estabelecimento prisional, quer no conteúdo, levar saúde restaurativa ao mundo prisional, dando mais qualidade e esperança média de vida aos detidos infetados com o vírus da hepatite C”, explicou o presidente do CHLN, Carlos Martins.
Segundo Carlos Martins, o trabalho desta equipa vai proporcionar “múltiplos benefícios”, como a redução do risco de evolução para cirrose e cancro, redução do cansaço, aumento de peso e redução ou mesmo desistência do consumo de bebidas alcoólicas, sendo o objetivo final “a erradicação da infeção com o vírus da hepatite C neste estabelecimento prisional”.
Os medicamentos usados nestes tratamentos são “os de terapêutica mais inovadora disponíveis no mercado”, disse o presidente do CNLN, explicando que o tratamento, com um custo de cerca de 6.500 euros, consta de uma toma de comprimidos por dia, durante oito ou 12 semanas, sem efeitos secundários conhecidos e com eficácia de 98%.
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