“Nunca tive a oportunidade, nunca, e sonhava com isto, de maneira que estou feliz”, confidenciou Marta Navais, de 74 anos, uma das participantes da marcha da Santa Casa.
A ensaiarem há dois meses, de segunda a sexta-feira, no pavilhão do Vale Fundão, em Lisboa, os 52 marchantes já se sentem “preparadíssimos” para desfilar na Avenida da Liberdade, na noite de 12 para 13 de junho.
“A uma dói o joelho, a outra dói o cotovelo, a outra dói o braço, mas cá estamos com boa vontade”, afirmou à Lusa Marta Navais, frisando que a “brigada do reumático” está a dar o seu melhor.
Com arcos alusivos às tômbolas dos jogos da SCML e decorados com balões e manjericos, os idosos ensaiam os diferentes passos da coreografia, provando que “todas as faixas etárias” podem participar nas Marchas Populares.
Durante o ensaio, os marchantes adaptam-se aos sapatos novos, já as fatiotas ficam guardadas para o derradeiro dia do desfile.
“A nossa marcha é linda! Viva a Santa Casa da Misericórdia!”, entoam de viva voz os marchantes.
De acordo com o administrador da Ação Social da SCML, Sérgio Cintra, a ideia de constituir uma marcha para desfilar extraconcurso nas Festas de Lisboa surgiu como “o passo seguinte e o passo natural” à iniciativa dos vários equipamentos de organizarem marchas desde 2014, devido à “qualidade da resposta”.
Além disso, a criação da marcha da Santa Casa foi motivada para “concretizar de um sonho” de uma utente que nunca pôde marchar quando era jovem porque os pais e, posteriormente, o marido nunca o permitiram.
“O primeiro objetivo é aumentar a autoestima” dos idosos, afirmou à Lusa Sérgio Cintra, revelando que a idade média dos marchantes é 74 anos e o marchante mais velho tem 88 anos.
A coordenar o ritmo da marcha da Santa Casa, o ensaiador Paulo Jesus disse que o principal desafio é garantir que todos os marchantes estejam com a mesma energia, uma vez que a maioria dos idosos está a marchar pela primeira vez.
“São pessoas que durante uma vida inteira quiseram ser marchantes e não conseguiram”, declarou à Lusa Paulo Jesus.
Segundo o ensaiador, neste momento, está “tudo preparadinho e muito bem preparado” para que a marcha se apresente a público.
“Das melhores coisas que me podia ter acontecido agora aos 49 anos, foi este trabalho”, expressou Paulo Jesus, elogiando o empenho de todos idosos da SCML: “Não há ninguém a quem possa apontar o dedo”.
Cheia de energia, Maria José Aleixo, de 77 anos, assumiu que “é uma responsabilidade muito grande” participar numa marcha que vai desfilar na Avenida da Liberdade, apesar de desempenhar o papel de porta-estandarte.
“Mesmo doente das pernas, cá estou para dar o meu melhor”, assegurou Maria José Aleixo, referindo que “é um convívio muito bom” e “é uma camaradagem muito boa”.
Orgulhoso por participar pela primeira vez numa marcha, José Caldeira, de 75 anos, assumiu que “no início foi um bocadinho difícil”, mas à medida que vão ensaiando, vai melhorando.
“Vamos ser um sucesso”, garantiu José Caldeira, admitindo continuar a participar na marcha se a iniciativa da SCML se voltar a realizar.
Dona de um sorriso contagiante, Otávia Costa, de 68 anos, contou à Lusa que está “muito feliz por ter aceitado” o desafio de marchar, referindo que “os ensaios são muito intensos”.
“Às vezes chego aqui muito cansada, mas ouvindo a música, isso é o ‘flash’ para entrar logo no ritmo”, disse Otávia Costa.
As Marchas Populares de Lisboa vão desfilar na Avenida da Liberdade, no dia 12 de junho, a partir das 21:00, com a participação de três marchas extraconcurso: Infantil “A Voz do Operário”, Mercados e Santa Casa.
Organizado pela Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), o concurso conta com a participação de 20 marchas: Alfama, Benfica, Madragoa, Alto do Pina, Carnide, Penha de França, Campo de Ourique, Bica, Castelo, Ajuda, São Vicente, Mouraria, Santa Engrácia, Alcântara, Marvila, Bela Flor – Campolide, Belém, Olivais, Graça e Bairro Alto.
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