A análise das imagens, publicada hoje na revista científica Science, mostra que há na cratera sinais de inundações repentinas do pequeno rio que alimentava o lago e que transportaram grandes rochas a jusante do leito do lago.
As inundações, segundo as provas analisadas, terão sido suficientemente enérgicas para transportarem grandes rochas durante dezenas de quilómetros que ficaram depois depositadas no leito do lago, onde ainda hoje permanecem.
A conclusão baseia-se nas imagens de rochas que afloram o interior da cratera, no lado ocidental. Imagens de satélite já tinham mostrado este afloramento, que visto de cima se assemelha a deltas de rios na Terra, onde camadas de sedimentos são depositadas em forma de leque.
As novas imagens do “Perseverance”, tiradas do interior da cratera, confirmam que este afloramento foi de facto um delta do rio. Com base nas camadas sedimentares do afloramento, os cientistas sugerem que o rio desaguou num lago calmo durante grande parte da sua existência, até que uma mudança dramática no clima desencadeou inundações episódicas no final ou perto do fim da existência do lago.
"Se olharmos para estas imagens, estamos basicamente a olhar para esta paisagem épica do deserto. É o lugar mais abandonado que alguma vez se pode visitar", disse Benjamin Weiss, membro da equipa de análise e professor de ciências planetárias no Departamento de Ciências da Terra, Atmosféricas e Planetárias do MIT (Massachusetts Institute of Technology, universidade privada em Cambridge, Estados Unidos).
"Não há uma gota de água em lado nenhum, e ainda assim aqui temos provas de um passado muito diferente. Algo de muito profundo aconteceu na história do planeta", acrescentou o cientista, citado em comunicado que divulga a análise das imagens.
Os cientistas esperam desvendar mais pistas sobre a evolução climática de Marte, à medida que o Perseverance explora a cratera. Agora que confirmaram que a cratera foi outrora um ambiente lacustre acreditam que os sedimentos podem conter vestígios de vida aquática. O veículo robotizado irá recolher sedimentos, que poderão ser enviados para a Terra e assim estudados.
"Temos agora a oportunidade de procurar fósseis", disse a investigadora Tanja Bosak, professora associada de geobiologia no MIT, que faz parte da equipa que analisou as imagens.
O Perseverance pousou na cratera de Jezero em 18 de fevereiro, a pouco mais de uma milha (1,6 quilómetros) do “delta” ocidental. Nos primeiros três meses o veículo esteve estacionário, enquanto os engenheiros da NASA faziam verificações remotas dos muitos instrumentos instalados a bordo. Durante esse período duas câmaras captaram imagens dos arredores.
Após o envio das imagens para a Terra os cientistas observaram leitos distintos de sedimentos e concluíram que os sedimentos devem ter sido depositados por água correndo para um lago, e não por vento ou outros processos geológicos.
Outras imagens levaram os cientistas a concluir que a formação em forma de leque era de facto a de um antigo delta de um rio.
"Sem ir a nenhum lugar o Rover conseguiu resolver uma das grandes incógnitas, que era que esta cratera já foi um lago", disse Benjamin Weiss.
Os cientistas explicam que como as enormes rochas, que terão sido arrastadas por grandes cheias, estão em camadas superiores do delta, é porque são material depositado mais recentemente, já que assentam em camadas superiores de sedimentos mais antigos e muito mais finos. Tal indica que grande parte da sua existência o antigo lago foi alimentado por um rio que corria tranquilamente.
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