A edição digital do jornal espanhol ABC refere que assuntos como a crise do Novo Banco e na TAP Air Portugal, "com milhões de ajudas do Estado" aumentaram a "brecha" entre o Bloco de Esquerda e os comunistas (PCP), que "não deram o braço a torcer".
O artigo do ABC refere ainda que o regime de contratações, "em especial no que diz respeito aos jovens" e à precariedade, assim como a larga "carreira contributiva que se continua a exigir aos portugueses" decidiram que os "correligionários" de Pablo Iglesias (fundador do partido espanhol Podemos e ex-vice-primeiro-ministro espanhol) e Yolanda Díaz (atual líder do Podemos) não apoiassem as intenções dos socialistas.
"A sessão (parlamentar) de quarta-feira constatou quão pouco edificantes são os divórcios", escreve, por outro lado, o jornal El Pais.
A mesma notícia recorda que após seis anos de "cumplicidade" entre a esquerda trocaram-se acusações "amargas" na Assembleia da República, em Lisboa.
"Se a líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes, acusou o BE de falsidades e de mentir sobre o relato das negociações do Orçamento do Estado, o chefe parlamentar do Bloco, Pedro Filipe Soares, recriminou a 'arrogância' do Governo que acusou de permitir uma crise política para manter as medidas laborais adotadas pela 'troika'", destaca o El Pais.
O mesmo jornal cita ainda Catarina Martins, para sublinhar que a líder do BE acusou António Costa pelo fim do "pacto" da esquerda.
O El Pais transcreve a frase de Catarina Martins: "A 'geringonça' morreu por causa da obsessão pela maioria absoluta" para explicar o fim do pacto parlamentar.
"Contam as más línguas que a 'geringonça' não foi inventada pelos portugueses. Em pleno Século do Ouro (século XVI), Francisco Quevedo (1580-1645) já classificava os versos de Luís de Góngora (1561-1627), seu eterno rival de 'jeringonza' por serem incompreensíveis", refere o jornal espanhol El Mundo para explicar o fim do pacto político da esquerda portuguesa.
"Estes dois grandes escritores, que tanto partilhavam, nunca conseguiram entender-se. Em Portugal, em pleno século XXI, os partidos de esquerda, por muito similares que sejam as propostas que apresentam, também parecem condenados a enfrentar-se", acrescenta o El Mundo na notícia com o título "O chumbo no Parlamento português indica a saída de Costa e eleições antecipadas.
A notícia do portal de notícias POLITICO (edição Europa) com o título "Fim do Romance - A 'extrema-esquerda' deixa cair António Costa" diz que a relação de seis anos acabou de forma "feia" na quarta-feira.
"Agora que Portugal muda para o 'modo pré-eleitoral', Costa espera que os eleitores venham a punir os partidos da 'extrema-esquerda' por desencadearem a crise e deem aos socialistas a maioria absoluta que perderam por oito lugares no Parlamento, em 2019", escreve o POLITICO referindo as "rixas" entre a esquerda que "marcaram" a semana política em Portugal.
Por outro lado, o mesmo portal de notícias refere que PSD conseguiu "vitórias surpreendentes" nas eleições locais do mês passado, conquistando várias cidades, incluindo Lisboa, onde o ex-comissário europeu Carlos Moedas é o novo presidente da Câmara.
"No entanto, as eleições (legislativas) vêm em mau momento para (Rui) Rio, que enfrenta o terceiro desafio à liderança em quatro anos. Paulo Rangel, membro do Parlamento Europeu, pretende destituí-lo numa votação do partido no dia 04 de dezembro", escreve o POLITICO referindo-se à crise interna do PSD.
O jornal francês Le Monde dá conta dos "contactos" do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e do Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, durante a discussão do Orçamento do Estado e destaca a posição da deputada Inês Sousa Real, líder do PAN, que considerou "irresponsável" associar uma "crise" do orçamento a uma "crise sanitária sem precedentes".
"Fazer oposição não é apenas estar contra", disse a dirigente do PAN numa posição destacada pelo Le Monde.
O Le Figaro diz na edição digital que a "frágil união da esquerda - conhecida em Portugal pelo nome 'geringonça' começou a notar-se a partir de 2019".
Na notícia sobre o chumbo do Orçamento do Estado em Portugal o jornal britânico The Guardian escreve que "sondagens recentes indicam que o PS pode facilmente vencer as eleições, mas sem maioria parlamentar".
"Costa, primeiro-ministro nos últimos seis anos cujo perfil político na União Europeia 'cresceu' consideravelmente durante a presidência de Portugal, é considerado candidato a um cargo internacional. Um resultado pobre na eleição (antecipada) pode ser a 'deixa' para abandonar cargos nacionais", escreve o Guardian.
Na mesma notícia, o jornal escreve que tanto o Partido Comunista como o Bloco de Esquerda perderam votos nas eleições de 2019, em parte devido ao apoio que deram aos socialistas, "mais moderados".
"O Partido Social Democrata de centro-direita, principal partido da oposição, está envolvido numa batalha de liderança" acrescenta o Guardian referindo-se às eleições antecipadas.
O portal da estação de rádio alemã Deutsche Welle recorda que é "a primeira vez que um orçamento é rejeitado em Portugal desde a transição do país para a democracia em 1974" e uma notícia da agência Reuters refere que "analistas" e sondagens indicam que "uma eleição por si só não vai resolver o impasse, que pode ser exacerbado pelo possível surgimento do partido de extrema-direita Chega como a terceira maior força no Parlamento.
A agência de notícias France Presse recorda que "imediatamente após a votação", a Presidência da República anunciou a realização das consultas legalmente exigidas para que o Chefe do Estado pudesse dissolver o Parlamento e fixar a data das eleições.
"Rebelo de Sousa vai receber as diferentes partes, antes de uma reunião extraordinária do Conselho de Estado na próxima quarta-feira", informa a AFP.
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