“Todas as previsões, quer nacionais quer europeias, indicam que temos uma alta possibilidade de ter um verão difícil, complexo, com temperaturas acima do normal, e é absolutamente prioritário que todas as forças e entidades que partilham responsabilidades nesta matéria se alinhem e que possamos todos convergir para o objetivo de nos prepararmos o melhor passível para este verão”, disse à Lusa Patrícia Gaspar, em Abrantes, à margem da visita ao posto de comando instalado nas imediações do estádio municipal daquela cidade.

Cerca de 750 operacionais de Portugal, Espanha, Alemanha, Itália e França participam desde quarta-feira e até sexta-feira, em Abrantes, num exercício que visa treinar a resposta nacional e europeia a um incêndio rural de grandes dimensões, num cenário complexo, com múltiplas ocorrências, e que está a afetar vastas áreas florestais com um grande número de aglomerados populacionais no seu interior.

“Aqui estamos a levar o cenário a uma situação extrema, uma situação em que as capacidades nacionais, por algum motivo, são esgotadas, e o país solicita apoio europeu”, contextualizou a governante, tendo destacado a importância da “preparação” e “interoperabilidade” para enfrentar “uma situação real que possa acontecer” semelhante ao exercício em curso.

“Recebermos aqui um exercício desta natureza, que é muito operacional e muito vocacionado para aquilo que é a interoperabilidade e capacidade de trabalhar em conjunto com diferentes equipas europeias, é uma oportunidade importantíssima que estamos a tentar explorar em todas as suas dimensões”, afirmou a secretária de Estado, tendo destacado o exercício como uma “forma de complementar todo o trabalho de treino e preparação que o sistema nacional tem em curso para este verão”.

O exercício é também uma oportunidade para “identificar aspetos que possam correr menos bem (…) para que, quando for a sério, esses mesmos aspetos não se venham a verificar”, disse a secretária de Estado, lembrando que o cenário que hoje é base de um treino operacional pode efetivamente vir a suceder.

Patrícia Gaspar afirmou que “há seis, sete anos, seria impensável ter equipas de países como a Alemanha interessadas em participar neste tipo de cenários de incêndio florestal”.

No entanto, atualmente “este é um risco que não preocupa apenas os típicos países da bacia do mediterrâneo, mas que está a alastrar para outros países e que tem a ver com o cenário global de alterações climáticas”, acrescentou.

Em comunicado, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), entidade organizadora do exercício, em colaboração com o consórcio EURO MODEX, no quadro do Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia, refere que o exercício “visa treinar e testar a capacidade de resposta conjunta e integrada do Sistema Nacional de Proteção Civil e da União Europeia, num cenário que prevê múltiplas e complexas situações de emergência, provocadas por incêndios rurais, que irão afetar a generalidade do território nacional e, em particular, a região de Lisboa e Vale do Tejo”.

Neste quadro, que serve de base ao exercício, é “acionado o apoio do Mecanismo Europeu de Proteção Civil através da mobilização de módulos de combate a incêndios rurais”, cujas valências em trabalho integrado estão a ser testadas.

“Os diferentes Agentes de Proteção Civil, nacionais e internacionais, irão atuar segundo os protocolos operacionais fixados como se de ocorrências reais se tratassem, desencadeando as ações de resposta necessárias à resolução dos incidentes planeados, pondo em prática e testando as suas diversas capacidades e valências, designadamente de combate a incêndios rurais, de evacuação de populações, de organização de zonas de concentração e de suporte às populações”, lê-se na mesma nota.

Por outro lado, acrescenta, “será igualmente testada a importante componente de receção, integração e coordenação dos meios das equipas internacionais que, numa situação real, possam ser chamados a intervir no quadro de apoio de assistência internacional”.

O exercício envolve módulos terrestres de combate a incêndios dos cinco países envolvidos, assim como o módulo aéreo de Espanha, que participa ainda com um Canadair CL415 e com um módulo de análise e avaliação de incêndios.

A realização desta tipologia de exercícios (MODEX) é financiada pela União Europeia e consiste em exercícios europeus de módulos de Proteção Civil e outras capacidades de resposta a situações de catástrofe e à forma como as forças, entidades e organismos locais participantes se articulam entre si.