“Efetivamente não ignorei, porque terei falado com o presidente da Caixa. E confio inteiramente no que disse António de Sousa sobre isso. Em 2002 não havia qualquer crise e nada que pudesse afetar a posição solidíssima da CGD", afirmou o também ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE) durante a sua segunda audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da CGD.
A revelação foi feita depois do deputado do PSD Duarte Marques ter acusado Vítor Constâncio de ter "ignorado o alerta" de Almerindo Marques, ao referir as palavras do ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) António de Sousa, que disse no parlamento que Constâncio teve conhecimento da missiva.
Duarte Marques referia-se às palavras de António de Sousa na comissão parlamentar de inquérito no dia 30 de abril, em que o ex-presidente da Caixa disse ter tido conhecimento da carta de Almerindo Marques.
"Conheço a carta, embora nunca a tenha visto fisicamente", disse o antigo presidente da CGD, acrescentando que quem o informou do conteúdo da carta de Almerindo Marques foi o então ministro das Finanças, Pina Moura, e o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio.
Na sua audição anterior, no dia 28 de março, o ex-governador do Banco de Portugal disse que não fazia ideia se tinha recebido a carta de Almerindo Marques a alertar para más práticas no banco.
"Já vejo os sorrisos… Isso será quando? Há 12 anos? Tanto papel que eu recebi, tanto relatório que eu li... Não faço ideia de quando foi ou se foi", declarou então Vítor Constâncio, acrescentando que se a recebeu, "há registos no Banco de Portugal (BdP)".
"Não tenho ideia dessa carta e não tenho obrigação de ter memória e recordação de todas as cartas que recebi, processos que vi, relatórios que li. É completamente impossível, por amor de Deus", disse o também antigo vice-presidente do Banco Central Europeu.
De acordo com o Jornal Económico de 22 de fevereiro, Vítor Constâncio "ignorou os alertas para falhas no controlo de risco de crédito na Caixa Geral de Depósitos que lhe foi transmitido por carta, em 2002, dirigida ao então governador do Banco de Portugal por Almerindo Marques, ex-administrador do banco público".
Segundo o jornal, o ex-governador disse a Almerindo Marques, administrador da CGD entre 2000 e 2002, "não ter recursos para mandar fazer uma auditoria; que não era oportuno fazê-la ao maior banco do sistema, um banco público; e que não era conveniente uma auditoria com base numa denúncia de um membro do Conselho de Administração, pois não havia razões para justificar".
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