À pergunta da deputada do CDS-PP Cecília Meireles sobre quantas vezes se reuniu com José Berardo, Constâncio disse que se reuniu "uma vez" com o empresário, que terá ficado surpreendido com a presença de outras pessoas no encontro.
"Essa reunião lembro-me perfeitamente. Recebi o senhor José Berardo acompanhado pelo diretor de serviços jurídicos, José Queiró, e Silva Ferreira", disse Constâncio na sua segunda audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos.
De acordo com o também ex-vice-presidente do Banco Central Europeu (BCE), a presença de mais pessoas "surpreendeu o senhor José Berardo", que quereria reunir-se a sós com Constâncio.
"José Queiró conta-me muitas vezes esta história como uma história bizarra e divertida dos seus tempos no Banco de Portugal", revelou Vítor Constâncio, uma vez que Berardo terá abandonado o encontro passados poucos minutos por governador estar "com advogados", e ter-se-á sentido "atrapalhado".
Vítor Constâncio mencionou ainda que "o que se dizia" era que as denúncias sobre as 'offshore' do BCP, em 2007, partiram do empresário madeirense, mas que não se lembrava se oficialmente "as denúncias iniciais eram anónimas" ou se depois já eram "identificadas".
O ex-vice-presidente do BCE lembrou que as denúncias aconteceram no final de 2007, algo "posterior" ao pedido de Fundação José Berardo para alcançar uma posição qualificada no BCP.
Sobre a 'guerra' de poder no BCP e o papel da CGD no processo, o ex-governador disse que a "missão do banco público não é uma consideração, porque a lei obriga a que se trate o banco público de forma exatamente igual a qualquer outro banco".
Já sobre o papel do BdP, para Vítor Constâncio, "o que era indesejável" era que "para a participação no capital de um banco fosse o próprio a dar crédito a acionistas para comprar ações", algo "diferente" do crédito da CGD a Berardo.
Constâncio voltou a referir que "antes de maio", no Banco de Portugal, "nada foi conhecido por qualquer membro da administração nem por ninguém dos serviços" relativamente ao crédito de 350 milhões de euros concedido pela CGD à Fundação José Berardo.
Em 2015, segundo uma auditoria da EY à Caixa Geral de Depósitos (CGD), a exposição do banco público à Fundação José Berardo era de 268 milhões de euros, depois de uma concessão de crédito de 350 milhões de euros para compra de ações no BCP, dando como garantia as próprias ações, que desvalorizaram consideravelmente e geraram grandes perdas para o banco público.
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