“É mais desertificação do Interior, é mais uma machadada para o Interior”, afirmou à agência Lusa Mário Rosa.
A empresa Dielmar, com sede em Alcains e cerca de 300 trabalhadores, pediu a insolvência ao fim de 56 anos de atividade, uma decisão que a administração atribui aos efeitos da pandemia de covid-19.
Mário Rosa expressou “desânimo e preocupação”, referindo que “a Dielmar é uma marca de Alcains que emprega várias centenas de pessoas e há famílias inteiras cujo sustento é esta fábrica”.
“Trabalha o casal e, às vezes, o filho”, declarou, considerando tratar-se de uma situação muito complicada.
Notando que a Dielmar é “a maior empregadora da freguesia e uma das maiores do concelho e do distrito” de Castelo Branco, o autarca admitiu que desde que começou a pandemia a empresa, também exportadora, foi “muito afetada com a redução de encomendas”.
Alcains, com 36,7 quilómetros de área, é uma das 19 freguesias do concelho de Castelo Branco.
De acordo com os resultados preliminares dos Censos 2021, Alcains tem agora 4.611 habitantes, menos 411 do que há uma década.
Mário Rosa, a terminar o primeiro mandato à frente da junta e recandidato a um segundo, reconheceu que, a confirmar-se a insolvência da empresa, “não vai atrair mais pessoas”.
“E, provavelmente, pessoas que estão aqui, algumas famílias, poderão ter de ir para outros locais à procura de emprego”, previu o autarca que, ainda assim, não perdeu a esperança na reversão da insolvência.
Caso tal não suceda, “poderá haver outro investimento, outros investimentos”, manifestou Mário Rosa, assinalando que a Câmara de Castelo Branco “tem estado atenta ao assunto e a envidar esforços para resolver a situação”.
O autarca acrescentou que entre as atividades económicas da freguesia está a produção de queijo de ovelha e cantaria, destacando-se, além da Dielmar, o matadouro industrial e as Fábricas Lusitana, esta proprietária, entre outras, da marca de farinha Branca de Neve.
Alcains comemora em 12 de novembro os 50 anos da elevação a vila.
Em comunicado, a administração da Dielmar diz que a empresa “após ter ultrapassado várias crises durante 56 anos”, sucumbiu à pandemia da covid-19, “contaminada por um conjunto de situações que foram letais”.
“Esta crise atacou, globalmente, o que de melhor sustentava a sua atividade: o convívio social, os eventos e casamentos, com a elegância, o ‘glamour’ da alfaiataria por medida e a personalização em que nos especializamos, e o trabalho profissional no escritório, que eram a base fundamental do negócio da Dielmar”, sublinha a empresa.
No comunicado, a empresa salienta que os últimos 16 meses foram “longos e duros” e que fez “um esforço imenso e solitário” para conseguir sobreviver e manter os atuais cerca de 300 postos de trabalho.
“Por isso, não podemos deixar de dar uma palavra de gratidão os nossos trabalhadores, que estiveram sempre ao lado da empresa e do nosso lado, a lutar diariamente connosco pela sobrevivência da empresa, com um imenso empenho e dedicação”, afirma o conselho de administração.
A empresa lamenta a decisão, frisando que tem ainda “maior preocupação” pois sabe “o quanto a desertificação” afeta a região (Castelo Branco), “que se vê a braços com uma nova e forte redução populacional, conforme o demonstram os recentes censos”.
“Talvez a insolvência da Dielmar seja o alerta e o farol para que possam repensar com caráter de urgência o interior e apoiar as indústrias que ainda aqui existem e que suportam, há décadas, a fixação das pessoas e a economia e equilíbrio social da região. E que proporcionam, sobretudo, oportunidades de trabalho para as mulheres”, sublinha o conselho de administração da empresa.
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