Segundo explicou à agência Lusa Raquel Guiomar, responsável pelo Laboratório Nacional de Referência para o Vírus da Gripe e Outros Vírus Respiratórios, já estão recrutadas cerca de 60 unidades de saúde, mas o objetivo é ter mais de 100 a reportar nesta rede, que devem representar cerca de 10% da população portuguesa.
“Pretendemos atingir as cerca de 100 unidades sentinela a participar no programa de vigilância da gripe. Neste momento temos cerca de 60 unidades, que é também um número já bastante considerável, e estamos ainda em processo de recrutamento”, contou a responsável.
A investigadora sublinha o "grande interesse" em reforçar as redes sentinela, que permitem “recolher informação de forma sistemática” e “enviar amostras para diagnóstico da gripe e dos outros vírus respiratórios, incluindo o SARS-CoV e Vírus Sincicial Respiratório”, responsável pelas bronquiolites em bebés.
As unidades de saúde recrutadas vão notificar, cada uma, pelo menos cinco casos de infeção respiratória, recolher informação detalhada epidemiológica e enviar amostras biológicas ao Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), para que se faça o diagnóstico de gripe, de SARS-CoV-2 ou de Vírus Sincicial Respiratório.
Em entrevista à agência Lusa, a responsável conta que a vigilância deste vírus é também uma das prioridades da Organização Mundial de Saúde (OMS) no inverno, acrescentando: “Pensa-se que será disponibilizada, também pela primeira vez, uma vacina para os grupos de risco”. “No fundo, é necessário ter bem consolidada uma rede de vigilância, antes da introdução de uma vacina, para que depois se possa monitorizar o efeito”.
A nova estrutura da rede de vigilância está ainda a ser consolidada, mas – defende – “será uma boa base para garantir também a vigilância sentinela, que não é mais do que um conjunto de médicos e de unidades que seguem um protocolo e uma forma sistemática de testar casos”.
“Garante que também conseguimos fazer uma comparação mais fidedigna e uma melhor interpretação dos dados”, diz a investigadora.
Para isso, a vigilância conta com uma rede de hospitais, muito virada para o estudo da efetividade da vacina, que permite igualmente detetar vírus que possam ser associados a uma maior severidade da doença. No total são 42 laboratórios hospitalares do Serviço Nacional de Saúde.
A investigadora explica que um dos principais objetivos desta rede de vigilância, a nível europeu e mundial, é a partilha de vírus com os laboratórios da OMS. A ideia é caracterizá-los para que, quer em fevereiro, quer em setembro, se consiga fazer a melhor escolha da composição da vacina.
“A vacina da gripe do próximo inverno 2023/2024 vai ser já definida em fevereiro de 2023”, adianta Raquel Guiomar, explicando que, neste momento, já estão a ser isolados os primeiros vírus desta época (2022/2023).
“Estamos já a isolar os primeiros vírus desta época (…), que vão ser partilhados com o laboratório de referência” adiantou a responsável, explicando que se trata de uma partilha em que participam todos os laboratórios internacionais com esta capacidade.
Tudo para que, até fevereiro, se conheçam as características dos vírus da gripe que estão a circular e a escolha da composição da vacina seja aquela que dará a melhor imunidade possível à população a nível mundial.
Insiste que estes sistemas de monitorização “têm de funcionar continuamente” para se perceber “a direção que os vírus estão a tomar, saber se são semelhantes à vacina, ou se está a aparecer algum com alguma característica diferente, ou até identificar alguns vírus que possam estar mais associados a casos de óbito ou de doença mais severa".
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