De acordo com documentos a que o Público teve acesso, o ex-provedor da Santa Casa, Edmundo Martinho, avisou dos valores elevados, em junho de 2021, quanto era necessário investir no processo de internacionalização. A informação terá chegado a Ana Mendes Godinho, mas também à atual vice-provedora, Ana Azevedo, que esteve de visita ao Peru e foi diretora da empresa que detinha a lotaria Torito de Oro.
Segundo Edmundo Martinho, há "Planos de Atividades e Orçamento aprovados pela tutela com valores definidos e enviados para a Direção-Geral do Orçamento (DGO)", bem como "atas de reuniões com vários elementos da mesa da SCML e centenas de emails".
No documento é referida a estratégia da Santa Casa Global, a empresa criada para seguir com o projeto da internacionalização, para iniciar atividade no mercado do Brasil. Para isto, era necessário um processo de aquisição de 55% da sociedade MCE — no valor de cerca de 14,56 milhões de euros. No total, o investimento no Brasil rondaria os 30 milhões de euros — e o valor total do processo de internacionalização surge no Orçamento da instituição para 2020: 50 milhões.
No seguimento desta informação, Edmundo Martinho reuniu com a ministra. "Foram abordados vários problemas e outras situações relacionadas com a SCML, mas nada relacionado com a internacionalização”, garantiu, acrescentando ainda que nunca “a ministra levantou dúvidas sobre a Santa Casa Global e aprovou sempre os planos de atividades e orçamento e os relatórios de contas”.
Apesar de os relatórios de contas terem sido aprovados pela tutela até pelo menos 2021, diz o Público que "não podem ser levados em conta por causa das dúvidas que há em relação aos gastos com a internacionalização, que em setembro, quando a atual provedora da SCML, Ana Jorge, foi ao Parlamento, já iam em 27 milhões de euros, segundo a própria", mas acrescentou ainda que estariam limitados a 5 milhões.
Para o ex-provedor da Santa Casa, ninguém sabe onde se foi buscar este número dos 5 milhões — e a própria ministra nunca o referiu no Parlamento. Por isso, Edmundo Martinho afirma que “é legítimo que se queira mudar agora de opinião em relação ao investimento que se aprovou, mas não é legítimo que se queira passar uma esponja nas responsabilidades de cada um". Além disso, "está tudo nas atas da SCML", conclui.
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