O estudo, que arranca em finais de julho e tem duração prevista de 18 meses, será coordenado pelo Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) da Universidade Nova de Lisboa e pela Universidade do Sul da Dinamarca, num projeto de investigação colaborativo com Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique.
Segundo a professora de Saúde Pública e Epidemiologia do IHMT, Inês Fronteira, a ideia é perceber se a vacina do bacilo Calmette-Guérin (BCG) contribui para diminuir a incidência ou a severidade dos casos de covid-19.
A vacina BCG, utilizada há décadas para prevenir as formas graves de tuberculose, possui efeitos protetores benéficos para outras infeções.
A investigação, idêntica a outras que estão a ser desenvolvidas na Europa e nos Estados Unidos, vai estudar esses efeitos nos profissionais de saúde de três países africanos lusófonos.
Os profissionais de saúde estão entre os mais afetados pela covid-19, colocando uma pressão acrescida sobre os serviços de saúde, particularmente em África, onde são em regra frágeis.
“Por um lado, ao serem afetados os profissionais de saúde, a capacidade de resposta dos sistemas de saúde diminui, o que os torna ainda mais frágeis, e por outro, os próprios profissionais de saúde, estando infetados, podem infetar aqueles que recorrerem aos serviços de saúde”, apontou a especialista.
O estudo vai abranger 1.200 profissionais de saúde, entre médicos, enfermeiros, auxiliares e administrativos em contacto directo com doentes, que serão separados em dois grupos, sendo administrada a vacina a um dos grupos e ao outro um placebo.
“O que vamos ver é se existem diferenças em termos de ausência ao trabalho por covid-19, mas também por outros motivos relacionados com a saúde, entre aqueles que fizeram a vacina e aqueles que não fizeram”, explicou Inês Fronteira.
Como todos os países do estudo têm uma tradição de vacinação contra a tuberculose, será igualmente tida em conta essa variante, disse a especialista, assinalando que a imunização pela BCG aumenta com os reforços da vacina.
“Quanto mais as pessoas levarem vacina, maiores parecem ser os efeitos não específicos. Esta é outra das coisas que nós também vamos estudar”, disse.
“Se de facto se demonstrar que a BCG tem um efeito não-específico de reduzir a incidência da infeção nos profissionais de saúde, reduzindo o absentismo, então, com uma medida relativamente segura, simples e barata podem-se prevenir os efeitos da covid-19 quer nos profissionais de saúde quer em populações para as quais possa ser escalada esta intervenção”, acrescentou.
O projeto “BCG vaccine to enhance non-specific protection of health care workers during the COVID-19 pandemic. A multicentre randomised controlled trial”, será financiado pelo Fundo para a investigação sobre a covid-19 na África Subsaariana da European and Developing Countries Clinical Trials Partnership (EDCTP).
O projeto será coordenado por Christine Benn, da Universidade do Sul da Dinamarca, e Inês Fronteira e Paulo Ferrinho, do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, e contará com uma equipa de investigadores dos países africanos, liderada, em Cabo Verde por Isabel Araújo da Universidade de Cabo Verde, na Guiné-Bissau por Amabélia Rodrigues, e em Moçambique por Pedro Aide, do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça.
O continente africano ultrapassou nas últimas 24 horas a barreira dos 4.000 mortos devido à covid-19, num total superior a 142 mil infetados, segundo o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC).
Entre os países africanos que têm o português como língua oficial, a Guiné Equatorial lidera em número de infeções (1.306 casos e 12 mortos), seguida da Guiné-Bissau (1.256 casos e oito mortos), Cabo Verde (435 casos e quatro mortes), São Tomé e Príncipe (479 casos e 12 mortos), Moçambique (254 casos e dois mortos) e Angola (86 infetados e quatro mortos).
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