“São dois quilómetros, onde estão a abater árvores de um lado e do outro da estrada, numa faixa de 10 metros para dentro, da estrada para o interior”, afirmou à Lusa Susana Félix, do Grupo dos Amigos das Árvores de Sintra (GAAS).
A moradora, que percorre todos os dias uma parte do troço regional entre Colares (Sintra) e Cascais da Estrada Nacional 247, explicou que o corte de arvoredo “começou antes do Natal” e que “continuam a cortar árvores”, considerando importante que “a Infraestruturas de Portugal [IP] pare o massacre”.
“Basicamente cortaram pinheiro-bravo e eucaliptos, embora haja alguns sobreiros que foram danificados” e permanecem “caídos na beira da estrada”, contou Susana Félix, acrescentando que “são árvores espetaculares, algumas com o tronco com um diâmetro enorme”, que permitem avaliar terem “75 anos” ou mais.
Para a moradora, a intervenção “é uma vergonha”, pois trata-se de “uma estrada emblemática, que é usada como roteiro turístico” e que ainda está “dentro do parque e da área protegida de Sintra-Cascais”.
“É indecente deitar abaixo árvores daquele tamanho”, reiterou Susana Félix, apontando para o “valor paisagístico, turístico e cultural” daquela zona entre o litoral de Sintra e Cascais.
“Sintra tem monumentos que são conhecidos mundialmente, e são património mundial, mas Sintra é o verde, Sintra é as árvores, é a paisagem arbórea, são as árvores centenárias, se não preservamos isto o que é que sobra?”, questionou.
Para denunciar o abate das árvores, o GAAS promoveu no domingo uma concentração junto da área intervencionada, que juntou três dezenas de pessoas, incluindo representantes de associações como a ADN Ambiente, Plataforma em Defesa das Árvores, Sintra sem Herbicidas, Lisboa Para Pessoas e Quercus, e de partidos como Bloco de Esquerda e Livre.
“Temos de procurar explicações por parte de quem perpetuou estes atos, sem que exista um esclarecimento à população, sem relatórios fitossanitários, sem apelo nem agravo”, referiu Florbela Veiga Frade, do GAAS.
A porta-voz do grupo lamentou o abate de “pelo menos um pinheiro centenário” e de várias árvores às quais “cortaram todos os ramos ficando apenas o tronco para ser posteriormente abatidas”, num “cenário dantesco”.
“Aparentemente baseiam a sua intervenção no controlo da massa combustível e no abate de acácias, consideradas uma espécie invasora, que também cortaram. Mas à conta disso arrasaram com árvores que será muito difícil de repor pelo tempo longo que levam a atingir tal imponência”, frisou.
A IP, em comunicado enviado à Lusa, informou que a intervenção de abate e poda de árvores executada no troço da ER247, entre os quilómetros 71,960 e 87,480 na União das Freguesias de Sintra e freguesia de Colares, “constituiu a última fase dos trabalhos iniciados há cerca de dois anos, e teve como principal objetivo a execução das faixas de gestão de combustível”, de modo “a assegurar condições de circulação em segurança para pessoas e bens nas estradas” sob a sua gestão direta.
A intervenção realizada faseadamente, “ao longo dos últimos dois anos, compreendeu no total a execução de 661 podas e 480 abates de árvores, dos quais 183 correspondem a exemplares de espécies exóticas invasoras”, avançou a entidade gestora da rede rodoviária.
A tipologia das intervenções foi, em termos genéricos, a “poda de plátanos ao longo do percurso entre Sintra, Colares e Pé da Serra, com vista à melhoria das condições de segurança e circulação rodoviária e pedonal na ER247”, e “limpezas, abates e desramações no percurso entre o Pé da Serra e o Cabo da Roca”, igualmente para “cumprimento dos critérios especiais definidos para a área do Parque Natural Sintra-Cascais no Plano de Defesa da Floresta Contra Incêndios do Município de Sintra”.
Segundo a IP, tendo em conta o objetivo dos abates, no âmbito da gestão integrada de fogos rurais, a remoção de invasoras “e desbaste para afastamento de copas” e “o facto de a maior parte das espécies em causa serem eucaliptos, pinheiros-bravos e exóticas invasoras”, não se aplica o conceito de compensação, pois são medidas que visam a melhoria e a proteção do espaço florestal.
A empresa esclarece que os materiais resultantes da poda ou abate “são encaminhados para destino final adequado”, de acordo com o previsto na legislação de resíduos e disposições ambientais, “conforme contratualmente estabelecido com a entidade executante”.
A IP referiu que as atividades de poda e abate de árvores “são sempre precedidas de avaliação técnica da especialidade para determinação das necessidades de intervenção” e que, neste caso, “dado tratar-se de uma zona protegida, foi obtida a autorização prévia por parte do ICNF [Instituto de Conservação da Natureza e Florestas] e comunicada à Câmara Municipal de Sintra”.
“Acho que devia haver mais apreço pelas árvores, devia haver mais estima, são seres vivos, dão-nos muito, as pessoas vivem distraídas mas uma árvore é de uma importância extrema, e sobretudo numa época em que vivemos com problemas climáticos, com uma poluição imensa”, concluiu Susana Félix, avançando que o GAAS vai “enviar cartas para várias entidades oficiais” e preparar ações com outras organizações.
Uma fonte oficial da Câmara de Sintra confirmou que a IP informou a autarquia da intervenção, que obrigou a condicionamentos de trânsito na zona.
A Lusa contactou o ICNF, que remeteu para mais tarde esclarecimentos sobre o assunto.
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