“Sem investigação não conseguimos expandir a linha de fronteira em termos de sobrevivência e qualidade de vida (…). Existem várias limitações da forma como as instituições públicas, nomeadamente as instituições do SNS [Serviço Nacional de Saúde], são geridas e que entram em conflito com a necessária competitividade de que é preciso ter neste contexto internacional”, disse o presidente do IPO do Porto.
Em entrevista à agência Lusa, a propósito do 50.º aniversário do IPO do Porto que se assinala quarta-feira, Júlio Oliveira revelou que “está para breve” a constituição de uma associação que ajude a “gerir de forma autónoma e ágil os recursos na área da investigação clínica”.
Com o nome Porto Innovation Cancer Organization (PICO), esta associação juntará o IPO do Porto, a Câmara Municipal do Porto, a Universidade do Porto e quatro instituições privadas: Fundação Manuel António da Mota, a Fundação Ilídio Pinho, a Fundação Rui Osório de Castro e o Banco Carregosa.
“Estamos na iminência de receber as últimas autorizações para podermos avançar”, referiu.
Sublinhando que para o IPO do Porto a área da investigação clínica é “absolutamente central”, Júlio Oliveira considerou que as limitações atuais com que se depara na contratação e na agilidade da contratação dos recursos humanos não se compadecem com a necessária competitividade internacional.
“Não podemos estar a um ano ou mais à espera de saber se vamos poder contratar um enfermeiro, um médico ou um farmacêutico (…). Isso não é compatível num ambiente altamente competitivo, em que sabemos que um novo projeto vai iniciar daqui a um mês. Isto é um entrave, um problema que não é do IPO do Porto, é do ecossistema de saúde português e tem de ser resolvido”, defendeu.
À Lusa, Júlio Oliveira disse que com a criação da PICO “não se está a inventar a roda”, mas sim “a mimetizar os bons exemplos espalhados pelo mundo fora” e deu exemplos.
“Espanha é, neste momento, um dos países mais competitivos a nível mundial na realização de ensaios clínicos. A Catalunha identificou como prioritário, não só para a saúde, mas também para a economia da região, a área da investigação clínica. Aquilo que o Porto está a fazer, e nesse sentido é pioneiro, é criar de raiz a partir de uma instituição do SNS, uma associação, criando um modelo organizacional que permita gerir recursos”, sintetizou.
Com foco na investigação, este projeto também tem como objetivo a retenção de profissionais altamente qualificados porque “o mercado de trabalho, nesta área, é, também, altamente competitivo”.
“Se não temos mecanismos para reter os profissionais qualificados, as multinacionais vêm cá buscá-los”, alertou.
Soma-se a este projeto, o Centro de Inovação Terapêutica em Oncologia (CITO), um espaço que ainda não foi inaugurado, mas que está em funcionamento desde de fevereiro no IPO do Porto.
O CITO estende-se por mais de 1.000 metros quadrados e custou quase dois milhões de euros, tendo sido financiado no âmbito do Porto Comprehensive Cancer Center (Porto.CCC), um consórcio entre o IPO do Porto e o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).
Com 24 grupos de investigação, este projeto reflete a cooperação entre as duas instituições, no âmbito da investigação oncológica fundamental, translacional, pré-clínica e clínica.
“Os doentes que estão incluídos em ensaios clínicos de fase 1, fase precoce, já começaram a utilizar o espaço, os doentes com neoplasias hematológicas também e, a muito curto prazo, iremos começar a transitar os doentes que estão incluídos em ensaios clínicos de fase 2 e fase 3 que têm tumores sólidos”, contou Júlio Oliveira.
O TeamUp4Cancer, projeto no âmbito do Porto.CCC, que ficou concluído em dezembro de 2023, previa, na globalidade, um investimento de 17 milhões de euros para aquisição de equipamentos, infraestruturas e recursos humanos.
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