Com Luís Montenegro ausente por mais dias do que o seu gabinete previa e a recuperar de uma "doença não grave", as reuniões do Governo com os partidos sobre o Orçamento do Estado foram um falso arranque, que deixou mais dúvidas do que esclarecimentos públicos.

O primeiro-ministro foi substituído pelos ministros de Estado e das Finanças, da Presidência e dos Assuntos Parlamentares e logo a seguir, o líder do maior partido da oposição, talvez para fazer cumprir alguma regra tácita de "precedências político-partidárias, avisou que também não ia à reunião.

Pedro Nuno Santos não integrou a comitiva do PS hoje, mas prometeu ir a um próximo encontro com Luís Montenegro. Isto após ter começado o dia a dizer que o PS não tem medo de eleições e que está disponível para fazer cedências na negociação do Orçamento do Estado para 2025, mas sublinhou que não aceitará de forma acrítica a proposta do Governo. Ainda assim, a líder parlamentar socialista assegurou à saída da reunião, que as negociações orçamentais entre PS e Governo vão continuar, considerando que nesta altura deve haver reserva sobre os temas abordados,

Rui Tavares afirmou à saída que o Governo mostrou uma visão "diametralmente oposta" à do seu partido em matéria orçamental e que o Livre só apoiará se o executivo apresentar um programa "verdadeiramente social e ecológico". Da esquerda já o PCP anunciara o voto contra ao OE, um dia antes de começarem as reuniões.

A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, criticou o executivo por governar “dentro do seu afunilamento ideológico” e afirmou que as principais decisões já foram tomadas, sobrando uma “pequena margem” para os partidos negociarem.

Mais à direita do Governo, a Iniciativa Liberal está preocupada com as "cedências que o Governo possa vir a fazer ao PS e a quem "atrasa o país".

Já o Chega sublinhou que o partido está com seriedade nas negociações do próximo Orçamento do Estado. André Ventura disse ter sentido hoje “uma atitude positiva” do lado do Governo, mas avisou que “não pode jogar em dois tabuleiros”.

Os partidos do Governo, PSD e CDS, escusaram-se, em cima da hora, a participar na reunião marcada para esta sexta feira de verão a convidar à praia.

Marcelo Rebelo de Sousa respondeu aos jornalistas que sobre as reuniões de hoje está com um "optimismo moderado mas realista".

Para que o Governo veja a sua proposta de Orçamento do Estado aprovada na Assembleia da República terá de ter o apoio parlamentar do PS ou do Chega.

Com continuidade marcada para setembro, há todo um período de férias até que Luís Montenegro possa afinar as agulhas e entrar nas negociações para definir qual a orientação que dará ao OE2025, um ano que até o Presidente da República considerou "muito eleitoral" o que - sublinhou - "não é bom".