A sua morte foi confirmada hoje de manhã pelo seu médico, Len Horovitz, mas a causa não foi revelada, nem o motivo por que não foi anunciada mais cedo, noticia o jornal The New York Times.
James Levine era considerado um dos maestros mais influentes e admirados do mundo, tendo dirigido ainda as orquestras em Boston e Munique, mas a sua carreira terminou em 2018, num escândalo de assédio sexual.
Após investigar relatos de abusos sexuais por parte de James Levine a homens mais novos, ao longo de décadas, a Ópera Metropolitana suspendeu-o e depois despediu-o, em março de 2018, levando-o a cair do estado de graça aos 74 anos de idade.
O músico ripostou com um processo por difamação, acusando a companhia de ter analisado alegações sem fundamento, para o denegrir.
O processo interposto alegava que a Ópera Metropolitana de Nova Iorque e o seu diretor-geral, Peter Gelb, “aproveitando-se da boa vontade do movimento #MeToo, agarraram-se descaradamente a essas alegações como pretexto para porem fim a uma campanha pessoal antiga para forçar a saída de Levine”.
James Levine acusava a companhia e Peter Gelb de difamação e quebra de contrato, mas a advogada da Ópera Metropolitana de Nova Iorque afirmou que James Levine não foi vítima de uma vingança, mas despedido devido a “provas credíveis e corroboradas de má conduta sexual”.
A companhia explicou que a investigação se estendeu ao longo de três meses e que concluiu que James Levine praticou atos de abuso sexual e teve uma conduta de assédio, valendo-se da sua posição de poder, enquanto trabalhou com “artistas vulneráveis que estavam em início de carreira”, entre 1970 e 1999.
O maestro pedia, pelo menos, 5,8 milhões de dólares (4,7 milhões de euros) de indemnização. As duas partes chegaram a acordo no Verão de 2019, concordando que a Ópera Metropolitana e a sua seguradora pagariam a James Levine 3,5 milhões de dólares (2,9 milhões de euros).
Antes de o escândalo vir a público, James Levine era um dos maestros de referência, responsável pela afirmação da Ópera Metropolitana de Nova Iorque, depois da sua instalação no Lincoln Center, expandindo o seu repertório e brunindo a sua orquestra. Era o protagonista de uma discografia de mais de 200 gravações de óperas, obras sinfónicas, recitais de canto e de música de câmara, distinguida com os principais prémios a nível mundial, e com um repertório que se estendia por séculos de música erudita, do Barroco, de Johann Sebastian Bach, à contemporaneidade de Elliott Carter, Jonathan Dodd ou Peter Lieberson.
Levine foi diretor artístico da Ópera Metropolitana de Nova Iorque desde 1986, quando já somava 13 anos como maestro principal da orquestra, e depois de ter tirado a companhia de um dos seus períodos mais negros, em receitas, projetos e público.
A direção da “Tosca”, de Puccini, em 1971, marcou a sua estreia como maestro no Lincoln Center.
Ao longo de quase 45 anos na companhia, e de cerca de 30 temporadas como diretor artístico, dirigiu perto de 2000 récitas, de uma centena de óperas, atravessando todo o repertório, do século XVIII de Mozart e do século XIX de Wagner, à Itália de Rossini, Verdi e Puccini, ao século XX de Stravinsky e Schoenberg, Kurt Weill, Alban Berg, George Gershwin, John Adams, John Corigliano e John Harbison, entre muitos mais.
Não hesitou perante projetos mediáticos, como os “Três Tenores”, de Luciano Pavarotti, Placido Domingo e José Carreras, nem como “Fantasia 2000″, em que sucedeu a Leopold Stokovsky, que desafiara o meio erudito com a sua associação à Disney, em 1940.
Pianista de formação, Levine foi um dos principais acompanhadores em recitais de canção de câmara (‘lied’), tendo atuado com gerações de cantores como Birgit Nilsson, Christa Ludwig, Leontyne Price, Nicolai Gedda e Régine Crespin, Kathleen Battle, Kiri te Kanawa, Jessie Norman e Marilyn Horne ou, mais recentemente, Cecilia Bartoli.
A par do trabalho no Met, foi maestro titular da Filarmónica de Munique (1999-2004), com a qual se apresentou em Portugal, no âmbito da Porto 2001, e da Sinfónica de Boston (2004-2011).
Nascido em 23 de junho de 1943, em Cincinnati, James Levine estreou-se como pianista aos dez anos, com a Orquestra Sinfónica da sua cidade. Graduou-se na Julliard School de Nova Iorque, e iniciou a carreira de maestro, aos 21 anos, como assistente do histórico Georg Szell, na Orquestra de Cleveland.
O seu nome está associado às principais orquestras mundiais, das filarmónicas de Berlim e de Viena, à Sinfónica de Chicago e à Capela Estatal de Dresden, assim como a festivais como os de Salzburgo e de Bayreuth.
Os seus últimos anos como maestro foram marcados por crises de saúde, incluindo um cancro no rim e uma cirurgia ao braço, na sequência de uma queda no palco do Symphony Hall, em Boston, em 2006. Os problemas forçaram-no a perder semanas ou mesmo meses de atuações e, em março de 2011, face à realidade, acabou por renunciar ao cargo de Boston.
Em julho de 2020, o festival Maggio Musicale, em Florença, Itália, anunciou o regresso do maestro ao pódio, no mês de janeiro seguinte, mas as atuações foram canceladas devido à pandemia de covid-19.
Em 2000, anos antes da doença e das acusações de assédio e abuso de que foi alvo, James Levine, numa entrevista ao jornal The Guardian, disse que a orquestra da Metropolitan Opera House, depois de mais três décadas de trabalho em conjunto, se tinha transformado na sua “própria voz”.
“Uma vida dedicada à música é a melhor que posso imaginar”, garantiu.
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