Soube, nomeadamente, ultrapassar uma longa “travessia do deserto” de praticamente 10 anos, quando em 2003 o então Presidente José Eduardo dos Santos anunciou começar a ser tempo de o partido pensar na sua sucessão.
João Lourenço interpretou o anúncio à medida dos seus interesses e posicionou-se na corrida à sucessão, o que lhe valeu o afastamento da primeira linha partidária, sendo vítima da forma sibilina como José Eduardo dos Santos sempre exerceu o poder em Angola.
Remetido para uma das vice-presidências da Assembleia Nacional, João Lourenço é reabilitado politicamente em abril de 2014, com a nomeação para a pasta da Defesa Nacional, e dois anos depois com a eleição em congresso para a vice-presidência do MPLA, último passo para vencer as eleições presidenciais em 2017.
João Lourenço nasceu em 05 de março de 1974 no Lobito, província de Benguela, e fez os estudos primários na província do Bié e secundários também no Bié e em Luanda.
Com o definhar do regime colonial português juntou-se à luta de libertação nacional no centro de recrutamento e operações do MPLA na Ponta Negra e em agosto de 1974 recebeu formação militar no Centro de Instrução Revolucionária (CIR) Calunga, em Dolisie, na vizinha República do Congo.
Entre 1978 e 1982 recebeu formação político-militar na então União Soviética, na Academia Político-Militar Vladimir Ilitch Lenine onde, além da formação em artilharia pesada, trouxe o título de mestre em Ciências Históricos.
No regresso a Angola participou em 1982 e 1983 em operações militares no centro no Cuanza Sul, no Huambo e no Bié e assume o comando da Região Militar Centro, no Huambo.
A carreira política foi feita também a pulso e em 1984 foi eleito pela primeira vez para a Assembleia do Povo, anterior designação da Assembleia Nacional.
Eleito Presidente em 2017, João Lourenço procura em 24 de agosto a reeleição para um segundo mandato e a sua prioridade é reinventar-se para ter mais tempo no exercício do poder.
O início do primeiro mandato foi auspicioso. Conhecido como JLo, rapidamente passou a ser também conhecido como “exterminador implacável” ao dirigir as baterias da luta anticorrupção contra a família de José Eduardo dos Santos.
Eleito em 2017 com a promessa de ser "o homem do milagre económico", João Lourenço quis deixar a sua marca e rasgar com o passado. As reuniões que patrocinou no palácio presidencial com vozes críticas do regime e as entrevistas dadas à imprensa são exemplos das diferenças que procurou impor relativamente ao exercício do poder do antecessor.
Paralelamente, João Lourenço deu início a inúmeras reformas, nomeadamente ao nível económico, que vão desde a liberalização da moeda às privatizações, passando pela reorganização da banca angolana.
Mas à medida que se aproxima o fim do primeiro mandato a situação socioeconómica complica-se e os efeitos da covid-19, protestos sociais pela falta de concretização das promessas de mais emprego feitas cinco anos antes, combate à corrupção semeando a discórdia no seio do MPLA e finalmente a morte, no início de julho, de José Eduardo dos Santos, cavando tensões com a família do ex-Presidente, formam o caldo a que se junta uma oposição mais organizada e liderada pelo carismático novo líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior.
Depois de cinco anos no poder, JLo revela os traços que caracterizaram o exercício do poder pelo antecessor, José Eduardo dos Santos, procurando garantir a continuidade. Sobretudo, a continuidade do aparato policial, militar e dos serviços de inteligência, instrumentos indispensáveis para a manutenção no poder.
Comentários