Um dos maiores perigos na cadeia de alta segurança e Westville, na África do Sul, era quando se misturavam os presos das alas mais tranquilas com os das secções mais violentas. O "monte" acontecia na véspera das idas a tribunal ou ao médico.
Ainda assim, a segurança que João Rendeiro sentia vinha de dentro e nunca de fora. Era junto de alguns presos que se sentia protegido. Protegiam-se mutuamente, partilhavam comida, arranjam forma de comunicar com o exterior.
Foi assim que enviou, por exemplo, um ficheiro de WhatsApp, cuja importância deverá agora ser descoberta pela Polícia Judiciária, uma garantia dada pelo Diretor Nacional, Luís Neves: "A PJ tem meios e irá investigar".
Apesar das frustrações, o fundador do Banco Privado Português acreditava que, mais cedo ou mais tarde, poderia sair sob fiança e aguardar em liberdade sete a dez anos até à decisão de extradição para Portugal. Era a sua grande esperança.
Rendeiro sentia-se perseguido e injustiçado, vítima de um sistema com falhas, que queria fazer de si exemplo e bode-expiatório, esquecendo o outro lado da "caixa-negra". E ainda acreditava que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos podia vir a dar razão à sua história.
Já em janeiro deste ano, a sua advogada, June Marks, tinha escrito uma carta às Nações Unidas a queixar-se das más condições da cadeia de Westville e da forma como o seu cliente, João Rendeiro, era tratado. Afirmou, e foi notícia, que era "uma questão de vida ou de morte".
Como afirmou Pacheco Pereira no programa "O Princípio da Incerteza", da CNN, "não temos nenhuma pena de tortura nem de morte. Segundo, é suposto que o nosso aparelho diplomático e consular defenda os interesses dos portugueses em qualquer parte do mundo seja qual for a sua condição. Sabia-se que as condições onde estava eram muito más". E continua: "Eu gostava de ter a certeza, porque não tenho, de que tudo foi feito para proteger esse cidadão. Seja qual for a sua história ou culpa".
No entanto, seis dias depois, e até à hora da publicação deste podcast, a mulher de João Rendeiro, Maria de Jesus Rendeiro, não tinha ainda sido contactada por qualquer autoridade oficial, nacional ou estrangeira, a propósito da morte do marido ou das diligências a seguir.
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