João Semedo nasceu em Lisboa a 20 de junho de 1951. Filho de um engenheiro militante comunista e de uma professora, desde cedo conviveu com o descontentamento face à ditadura então vivida em Portugal, tendo, em 1967, tido a sua primeira participação cívica: as mobilizações estudantis no apoio às populações pobres da periferia de Lisboa afetadas pelas cheias daquele ano.
A última luta de João Semedo foi pela despenalização da eutanásia, tendo organizado um livro, lançado nas vésperas do debate e votação no parlamento, intitulado "Morrer com Dignidade - A decisão de cada um", no qual reuniu depoimentos de diferentes figuras defensoras desta causa.
João Semedo já não conseguiu estar presente no lançamento do livro devido a problemas de saúde, mas, a 29 de maio, quando os projetos de lei do PAN, BE, PS e PEV foram chumbados no parlamento, o médico, numa declaração por escrito à agência Lusa, mostrou-se confiante de que despenalização da eutanásia será "uma questão de tempo" porque nos últimos dois anos se "avançou imenso na compreensão das problemáticas do fim de vida".
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) foi outra das grandes paixões e vocações da vida de João Semedo, que juntamente com o fundador do PS e carinhosamente chamado “pai do SNS”, António Arnaut, lançou, em janeiro deste ano, um livro que serviu de base ao projeto de lei do BE para uma nova Lei de Bases da Saúde.
A apresentação do livro "Salvar o SNS - Uma nova Lei de Bases da Saúde para defender a democracia", em Coimbra, foi uma das últimas aparições públicas de João Semedo, que então defendeu ser "possível ultrapassar a crise em que a direita mergulhou" o SNS, avisando, no entanto, que a esquerda tinha de se unir nesse objetivo.
Depois de 30 anos de militância no PCP, João Semedo aderiu oficialmente ao BE a 4 de abril de 2007, apesar de a aproximação ao partido já ter acontecido três anos antes, quando integrou, enquanto independente, as listas do BE às eleições europeias de 2004, a convite de um dos fundadores do partido - Miguel Portas.
Após a saída de Francisco Louçã de líder do partido, entre 2012 e 2014, João Semedo assumiu a coordenação, em conjunto com a atual coordenadora, Catarina Martins, numa solução de liderança bicéfala que os bloquistas viriam a abandonar.
A batalha de João Semedo contra o cancro começou em 2015, quando renunciou ao mandato de deputado da Assembleia da República, que exercia desde 2006.
Em janeiro de 2016, depois de quase um ano sem qualquer discurso público devido ao um cancro na laringe que lhe chegou a retirar a voz, decorria a campanha de Marisa Matias para as eleições presidenciais quando João Semedo surpreendeu tudo e todos ao subir ao palco, em Coimbra, para uma intervenção que emocionou muitos dos presentes, mas que começou com humor: "Só mesmo a Marisa é que punha a falar aqui um tipo sem cordas vocais".
João Semedo voltou depois ao ativo e foi o nome escolhido e anunciado, em março de 2017, para encabeçar a lista do BE à Câmara do Porto nas eleições autárquicas desse ano, tendo antes já protagonizado as candidaturas bloquistas à Câmara de Gondomar (2005), Vila Nova de Gaia (2009) e Lisboa (2013).
A saúde voltou a trocar as voltas ao bloquista, que, três meses depois, de "forma brusca, súbita e imprevista" tomou conhecimento de que tinha um problema cujo tratamento era inadiável e se viu obrigado a renunciar a esta candidatura.
João Teixeira Lopes, que era número um na lista do BE à Assembleia Municipal do Porto, passou assim a encabeçar a lista à câmara, trocando com João Semedo, que passou a número um na lista à Assembleia Municipal, cargo de deputado municipal ao qual acabaria por renunciar em abril deste ano.
A ligação de mais de três décadas ao PCP começou em 1972, tendo sido eleito também para a direção da Associação de Estudantes e chegado a ser preso em 1973 na distribuição de panfletos a exigir eleições livres, acabando por passar duas semanas na prisão de Caxias.
Já depois do 25 de Abril tornou-se funcionário do PCP, tendo sido em 1978 que se mudou para o Porto para desempenhar tarefas de organização no setor intelectual, política de saúde e relações com a imprensa, e mais tarde assumido tarefas de organização concelhia.
Demitiu-se de funcionário do partido comunista em 1991, bem como de membro do Comité Central, tendo no final dos anos de 1990 regressado à militância mais ativa no âmbito da preparação do Congresso do PCP, então liderado por Carlos Carvalhas.
Após a saída definitiva do PCP, fundou, em 2003, juntamente com outros ex-dirigentes do PCP, o Movimento da Renovação Comunista.
Numa entrevista ao jornal 'online' Observador, em abril de 2017, foi perentório: "Não tenho nada de que me arrependa no que foi importante. Segui sempre a minha intuição, nunca me senti a fazer o que não queria. Sim, fui muito feliz, sou e acho que continuarei a ser".
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