“Toda esta filosofia do ‘apartheid’ ficou na mentalidade dos sul-africanos”, declarou Chissano, durante o lançamento da obra “O Caso Mido Macia”, do jornalista Hélio Filimone, que narra a história do taxista moçambicano morto pela polícia em 2013 na África do Sul.
Para o antigo Presidente de Moçambique, a “barbaridade xenófoba” que ocorreu na África do Sul nos últimos anos, obrigando milhares de pessoas a voltarem para os seus países de origem, pode ser explicada a partir de um passado recente, cujas marcas permanecem e ameaçam a convivência dos sul-africanos com outros povos.
“Há uma tendência de ver o estrangeiro como alguém que traz desgraça”, lamentou Joaquim Chissano, acrescentando que se trata de uma superstição que domina não só as pessoas como também as autoridades.
Chissano apontou como caminho a adoção de um modelo de educação que privilegia o respeito pela integridade do outro e a disseminação de valores comuns para a mudança de consciência do povo sul-africano.
“Na África do Sul ainda há resquícios de as pessoas serem conhecidas pelas suas tribos”, declarou o antigo chefe de Estado, reiterando que é necessária uma grande mudança cultural em matérias de convivência.
“Precisamos de aprender a viver na diferença”, sublinhou, admitindo que também em Moçambique, num passado recente, o etnocentrismo e o tribalismo dominaram a esfera social.
“O caso de Mido Macia serve como exemplo e deve levar-nos a condenar qualquer tipo de ato que atente contra o outro”, concluiu o antigo Presidente, que prefaciou a obra lançada hoje em Maputo, em homenagem ao taxista moçambicano.
Mido Macia tinha 27 anos quando morreu após agentes da polícia sul-africana o terem amarrado na parte traseira de um carro da corporação e arrastado cerca de 400 metros numa estrada alcatroada.
O tribunal de Pretória condenou a 15 anos de prisão os oito polícias sul-africanos acusados do homicídio de Mido Macia, cuja morte foi filmada por populares.
O lançamento da obra, que narra detalhadamente os contornos do processo, contou com a presença dos médicos responsáveis pela perícia que indicou as causas da morte do taxista, agentes da polícia sul-africana que investigaram o caso e familiares da vítima.
Além do prefácio de Joaquim Chissano, a obra de Hélio Filimone, jornalista do diário Notícias, tem o posfácio do ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro.
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