As ‘goletes’ (babete com aspeto de camisa), os vestidos com uma alça em velcro, as saias que por dentro têm calção ou as calças com um bolso para a algalia são algumas das propostas da empresa MIFRI, um projeto pensado nos últimos dois anos por duas empreendedoras e que está agora a dar os primeiros passos, tendo no horizonte a “vaidade” e a “dignidade” de quem precisa de se sentir bem com a roupa que veste.
Elsa Marta Soares, professora e terapeuta da fala, e Ana Rito, ligada à moda, criaram o que sintetizaram à Lusa ser a “convergência de intenções pessoais, profissionais e de experiências” que resultaram numa “marca que responda às necessidades das pessoas com vários tipos de limitações ou doenças” sendo, ao mesmo tempo, “inclusiva”.
Os primeiros passos aconteceram após conversas com cuidadores e pessoas com necessidades específicas de saúde, mas também trabalharam com “muitos profissionais de saúde, terapeutas da fala, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas”, num início de caminhada em que o lado da moda como designers e ‘stylist’ esteve também presente e, inclusive, incluiu consultas a “relatórios de saúde para saber de onde é que vieram os principais problemas em Portugal”, descreveu Elsa Marta Soares.
“Começámos pela área motora, não só por poder ser um problema de desenvolvimento, mas também por problemas adquiridos na área motora, percebendo, depois, que vão surgindo mais e mais necessidades”, assim conseguindo que as peças conciliem várias respostas e que cheguem também a “problemas associados à área oncológica”, acrescentou.
Ana Rito enfatizou o outro lado da sua proposta, o de querer ser “uma marca que ouve as pessoas, que com elas procura soluções”, sem esquecer o que os olhos sentem quando se refere às peças em exibição na sua loja ‘online’, prontas a provar que estar doente não significa perder o direito de vestir bem: “são peças com cores divertidas e alegres, com detalhes de moda”.
Chegados aos detalhes, Elsa Marta Soares mostrou “camisolas com fecho para aumentar a autonomia da pessoa com dificuldades motoras no vestir ou despir, ou para o cuidador o fazer, mas também para ostomizados ou para quem tem botão gástrico e a ele poder aceder sem ter de tirar a roupa”.
Para utilizadores de cadeiras de rodas há “vestidos que abrem totalmente” e uma “saia, que no interior tem um calção, e que resultou do pedido de uma pessoa paraplégica, para que pudesse sair da cadeira para o carro” sem mostrar a roupa interior, contou a empreendedora.
Depois há os doentes oncológicos a quem Elsa promete, para “breve, peças de roupa sem tratamento químico”, calças, para crianças, que ao “abrirem facilitam a troca da fralda” e outras com “bolso para os algaliados, onde o saco ficará guardado sem que ninguém veja, dando dignidade à pessoa”, continuou.
Numa mesa ao lado, o que parece ser um camisa com folhos ao meio, Elsa explica, diligente, que, para tentarem acabar com a tradição nos lares de os “adultos terem babetes” e "desenvolveram as ‘goletes’, que simulam uma camisa”.
Flávia Silva, mãe de Teresa que com 4 anos luta contra uma leucemia no Instituto Português de Oncologia do Porto, falou à Lusa de dificuldades, mas também de importantes vitórias: “De início sentimos alguma dificuldade em encontrar roupa sem químicos, sem costuras, porque os tratamentos de quimioterapia são demasiado agressivos para a pele”.
“Havia também o problema da roupa e dos acessos ao cateter para os tratamentos e a MIFRI conseguiu conceber este vestido que abre [junto ao ombro esquerdo] com um velcro muito simples e que permite a facilidade de acesso, e que combinado com a t-shirt com um fecho nesta lateral permite à Teresinha fazer o seu tratamento sendo sempre menina, sendo sempre vaidosa e, acima de tudo, com dignidade”, enfatizou.
Gabriel Costa, amputado transfemoral na perna direita, lamentou a escassez de respostas para pessoas portadoras de deficiência antes de elogiar a marca que conheceu recentemente, lembrando que mantém a vaidade pessoal.
“É uma roupa que pode fazer diferença no nosso dia a dia. Traz cor e nós precisamos de autoestima”, concluiu.
[Jorge Fonseca (texto) e Estela Silva (fotos), da agência Lusa]
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