O ex-Presidente dos EUA compareceu em tribunal para responder a um processo que poderá custar-lhe o controlo da “Trump Tower” e de outras propriedades valiosas, prometendo defender a sua reputação.
O juiz Arthur Engoron já decidiu que Trump cometeu fraude nos seus negócios e terá agora de se pronunciar sobre outras seis acusações, de falsificação de dados económicos.
Trump - que construiu a sua carreira política com base na fama de um empresário imobiliário de sucesso e mestre na arte de negociar – é acusado pela procuradora-geral de Nova Iorque, Letitia James, de enganar bancos, seguradoras e outras organizações, mentindo sobre a sua riqueza para obter ganhos financeiros.
"Estamos diante de uma procuradora-geral racista que montou um espetáculo de horror", disse Trump à imprensa. "É uma farsa", disse o ex-presidente antes de entrar na audiência onde vai responder na qualidade de testemunha.
A procuradora-geral Letitia James advertiu do lado de fora do tribunal que "a Justiça prevalecerá" e acusou o multimilionário nova-iorquino de 77 anos de "reiteradas fraudes".
Letitia James pede 250 milhões de dólares (cerca de 230 milhões de euros) em multas e a proibição de Trump fazer negócios em Nova Iorque.
A decisão do juiz de condenação por fraude em negócios, tomada na semana passada, se for mantida em recurso, poderá forçar Trump a desistir de propriedades em Nova Iorque, incluindo a “Trump Tower”, um edifício de escritórios em Wall Street, campos de golfe e uma propriedade suburbana.
O ex-mandatário e seus advogados afirmaram que Trump participaria apenas no início do julgamento.
Embora não possa ser condenado a prisão por esta acusação, o julgamento será um prelúdio de uma série de processos judiciais que poderão prejudicar a sua campanha pela indicação republicana.
Trump é o candidato favorito nas primárias Republicanas para as eleições presidenciais de 2024. O ex-presidente negou qualquer irregularidade e argumenta que a procuradora e o juiz estão a subvalorizar ativos como a sua residência em Mar-a-Lago, na Flórida, reforçando que este processo é uma “farsa total”.
O multimilionário é acusado criminalmente em quatro casos diferentes, o que até ao momento não afetou a sua popularidade entre as bases republicanas.
O republicano deve comparecer ao tribunal federal de Washington, a 4 de março, para responder às acusações de tentativa - quando estava na Casa Branca - em reverter o resultado das eleições presidenciais de 2020, vencidas por Joe Biden.
Em seguida, Trump comparecerá novamente ao tribunal de Nova Iorque por fraude contabilística e, depois, na Flórida, pela gestão negligente de documentos confidenciais após deixar a presidência.
O julgamento que começou nesta segunda-feira assumiu de repente uma importância considerável na semana passada. O juiz Arthur Engoron, que o preside, decidiu que a "fraude contínua" foi comprovada e que o gabinete da Procuradoria-Geral do estado de Nova Iorque já tinha provado que Donald Trump e os diretores do seu grupo haviam "supervalorizado" os seus ativos entre 812 milhões e 2,2 mil de dólares entre 2014 e 2021.
"Um duro golpe"
O juiz ordenou a revogação das licenças comerciais no estado de Nova Iorque de Donald Trump e de dois dos seus filhos, Eric Trump e Donald Trump Jr, vice-presidentes executivos da Trump Organization, além de confiscar as empresas que são alvo do processo, que serão confiadas aos liquidatários.
Se implementadas, as sanções representam "um golpe duro na capacidade de Donald Trump de fazer negócios no Estado", afirmou Will Thomas, professor de Direito Comercial na Universidade de Michigan.
As propriedades estão no centro das acusações da procuradora Letitia James: a superfície do apartamento do empresário na Trump Tower triplicou e o edifício no número 40 de Wall Street foi supervalorizado entre 200 e 300 milhões de dólares.
A luxuosa residência da Trump Organization em Mar-a-Lago, na Flórida, e vários campos de golfe também aparecem no dossiê.
A procuradora pede ainda o reconhecimento de outras violações da legislação financeira e uma multa de 250 milhões de dólares.
Inúmeras testemunhas
Donald Trump tem rejeitado as acusações e intensificou os seus ataques contra a procuradora James, uma democrata negra que ele chamou de "racista", e contra o juiz Engoron, a quem descreveu como "perturbado".
O julgamento promete ser muito técnico e espera-se que dezenas de testemunhas sejam ouvidas, incluindo três dos filhos de Trump, Eric, Donald Jr e Ivanka. Esta última foi inicialmente alvo da denúncia, mas acabou por não ser indiciada, e o ex-diretor financeiro da Trump Organization, Allen Weisselberg, que cumpriu pena de prisão depois de se declarar culpado por fraude fiscal em outro caso contra o grupo.
As testemunhas incluem também o ex-advogado de Donald Trump, Michael Cohen, que se tornou um dos seus inimigos declarados, além de funcionários dos bancos credores e da empresa de contabilidade Mazars, que parou de trabalhar com a Trump Organization em 2021.
Na rede social Truth Social, Trump escreveu esta madrugada que iria a tribunal para lutar pelo seu nome e reputação.
Horas antes da sessão de julgamento de hoje, James reiterou a sua posição de que Trump durante anos se envolveu em “fraudes persistentes e repetidas”.
“Não importa quão poderoso seja e quanto dinheiro pensa que tem, ninguém está acima da lei”, disse a procuradora, a caminho do tribunal.
*com Lusa
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