A reportagem faz parte do processo designado por “Vaza Jato” e inclui mensagens trocadas entre procuradores e outras autoridades do país na aplicação Telegram obtidas por uma fonte não identificada.

Numa conversa de 21 de junho de 2015 e hoje divulgada, o procurador da Lava Jato Orlando Martello questiona o procurador Carlos Fernando Santos Lima sobre qual seria a estratégia para revelar à imprensa os próximos passos sobre uma investigação na estatal brasileira do setor elétrico Eletrobras.

Santos Lima disse não saber, mas afirmou que os seus "vazamentos [de informações à imprensa] objetivam sempre fazer com que pensem que as investigações são inevitáveis e incentivar a colaboração [acordo para confessar crimes em troca da redução da pena]”.

Noutra conversa no mesmo dia, o procurador-chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, informou os seus colegas que teria enviado ao jornal O Estado de São Paulo (Estadão) dados sobre uma parceria da Lava Jato com os Estados Unidos para investigar Bernardo Freiburghaus, apontado como um operador dos subornos pagos pela construtora Odebrecht.

A informação foi manchete no jornal brasileiro e os procuradores continuaram a discutir métodos de pressão sobre Bernardo Freiburghaus que incluíam bloquear o seu património no exterior para supostamente forçá-lo a delatar.

Dallagnol escreveu no grupo do Telegram aos outros procuradores que pretendia "colocar ele [Freiburghaus] de joelhos e oferecer redenção, não tem como ele não pegar [aceitar]".

O procurador-chefe da Lava Jato declarou em várias entrevistas que a força-tarefa nunca passou informações privilegiadas para a imprensa.

Em resposta à reportagem da Intercept, a assessoria de imprensa da Lava Jato negou que os procuradores tenham divulgado informações sobre este caso publicado no Estadão, frisando que a força-tarefa "jamais vazou [divulgou] informações sigilosas para a imprensa”, ao contrário do que é sugerido.

A decorrer desde 2014, a Lava Jato é a maior operação de combate à corrupção no país.

Ao longo dos anos, inúmeras informações sigilosas ou dados específicos sobre as investigações que não eram públicos foram divulgados na imprensa, ações denominadas de vazamentos.

Embora os procuradores da Lava Jato tenham sido apontados como suspeitos, sempre negaram publicamente terem passado informações privilegiadas para jornalistas.

Membros do grupo de trabalho da Lava Jato estão envolvidos num escândalo, conhecido como "Vaza Jato", que começou em 09 de junho, quando o Intercept e outros 'media' parceiros começaram a divulgar reportagens que colocam em causa a imparcialidade da maior Operação contra a corrupção no país.

Baseadas em informações obtidas de uma fonte não identificada, estas reportagens apontam que os procuradores da Lava Jato atuaram em parceria com juízes, o que é proibido.

Os procuradores da Lava Jato, por seu turno, negam terem cometido irregularidades e fazem críticas às reportagens do The Intercept e seus parceiros (Folha de S. Paulo, revista Veja, El País e o jornalista Reinaldo Azevedo), afirmando que são sensacionalistas e usam conversas que podem ter sido adulteradas e foram obtidas através de crime cibernético.