“A comunidade judaica sabe que há um partido em Portugal que sempre defendeu o Estado de Israel, sempre esteve do lado daqueles que acreditam na democracia, nas liberdades, um partido que sempre se afirmou contra quaisquer regimes totalitários, em defesa da autodeterminação dos povos”, afirmou o líder centrista.
Francisco Rodrigues dos Santos falava aos jornalistas depois de ter sido recebido pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, em Lisboa.
“Nessa medida, o CDS acompanha desde sempre essas mesmas causas e subscreve todo o seu legado e a sua história, que é absolutamente clara nesta matéria”, frisou.
O presidente dos democratas-cristãos comentava, assim, pela primeira vez, as polémicas declarações do também candidato à liderança do CDS Abel Matos Santos, depois de na sexta-feira a direção do partido ter emitido um comunicado sobre o assunto.
Hoje, o centrista salientou que o partido “congrega várias sensibilidades e credos religiosos no seu seio”.
“Achamos fundamental que exista esse diálogo e o CDS será sempre uma ponte e uma plataforma giratória para que cheguem a consensos em setores que são absolutamente essenciais e transversais na nossa sociedade”, vincou, acrescentando que “é este teto comum que permite abrigar todos os democratas, toda a gente moderada para defender causas e bandeiras que interessem verdadeiramente aos portugueses.
Abel Matos Santos, da Tendência Esperança em Movimento (TEM), e eleito para a comissão executiva do CDS, fez, de 2012 a 2015, em várias publicações na rede social Facebook, elogios a Salazar e à PIDE, e apelidou de “agiota dos judeus” o cônsul de Portugal em Bordéus Aristides Sousa Mendes, que ajudou a salvar milhares de judeus durante a II Guerra Mundial.
Matos Santos reagiu à polémica, sem negar a autoria das frases, e ao semanário Expresso afirmou que “expurgar frases desses textos e descontextualizá-las não é um exercício sério”.
No final da semana passada, o ex-vice-presidente do CDS-PP António Pires de Lima exigiu ao novo líder do partido que “retire a confiança política” ao dirigente Abel Matos Santos, dada a "gravidade das declarações" que fez sobre Salazar e Aristides Sousa Mendes.
Em comunicado divulgado o mesmo dia, a comissão executiva dos democratas-cristãos explicitou que no partido “não há espaço para o racismo, para a xenofobia, para o antissemitismo, para a intolerância ou para qualquer saudosismo de regimes que não assentem na liberdade”.
A nota emitida acrescentava que o CDS repudia, “com veemência, qualquer afirmação passada, presente ou futura” que se afaste da matriz do partido e que precisa de “se reconciliar com o seu passado, de incluir e de somar com todos os seus militantes e sensibilidades, e de saber agregar, numa proposta mobilizadora para os portugueses, as correntes de pensamento que o compõem”.
Os democratas-cristãos referem igualmente que Abel Matos Santos “é também um reflexo” do espírito de “unidade, compromisso e pluralismo” do CDS-PP, e que o ex-vice-presidente “fundou e liderou uma tendência interna do partido, cuja carta de princípios expressamente reconhece ‘os princípios gerais do estado de direito’”.
“É tempo de seguir em frente e de não permitir que os equívocos e mal-entendidos do passado nos comprometam o futuro”, finaliza o comunicado.
Em declarações à Lusa pouco depois de o comunicado ter sido divulgado, o vice-presidente do CDS-PP Sílvio Cervan realçou que o vogal da comissão executiva do partido Abel Matos Santos “teve sempre a confiança política de todas as lideranças” e não vale a pena estar a acrescentar “pontos ao conto”.
“[Abel Matos Santos] teve sempre a confiança política de todas as lideranças até agora, já situou [as declarações] e pediu desculpa por aquilo que disse. Não valerá muito a pena estarmos aqui a acrescentar grandes pontos ao conto, porque este conto não tem grandes pontos para se lhe acrescentar”, afirmou na altura Sílvio Cervan.
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