“O dispositivo que está montado está adaptado às realidades do país, às condições do país e às capacidades do país”, considera Jaime Marta Soares, presidente da Liga.
“Reforçado”, o dispositivo “poderá garantir [o combate a] 200, 300 incêndios por dia, se isso vier a acontecer e já seria uma loucura”, estima.
“Já tivemos dias de ter 500 ignições. Aí é que… a partir dessa fase é preciso um pouco mais de sorte, porque são muitos meios dispersos, muitos incêndios ao mesmo tempo, que criam dificuldades”, nota.
Mas, e apesar de ser “uma guerra com três frentes de batalha” — “a floresta como ela está, a pandemia de covid-19 (pelas implicações que tem nas movimentações de bombeiros) e os incêndios propriamente ditos –, “os bombeiros estão em condições” de enfrentar os tradicionais incêndios de verão, garante.
E não é o aumento do calor que pode “pôr em causa a grande capacidade da intervenção operacional”, desvaloriza.
Doze distritos de Portugal continental estão hoje em aviso amarelo devido ao calor e cinco deles vão passar a aviso laranja na sexta-feira, de acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Na quarta-feira, a Proteção Civil colocou cinco distritos do interior norte, centro e sul em alerta laranja no próximo fim de semana, devido ao risco de incêndio potenciado pelas condições meteorológicas previstas.
Os bombeiros têm “evitado males maiores”, apesar das “muitas insuficiências” materiais e de apoio, assegura Jaime Marta Soares, sublinhando que os portugueses “estão ao nível dos melhores do mundo no combate aos incêndios florestais”.
Portanto, “os erros estão a montante”, com “os responsáveis” a não terem em conta as recomendações que têm sido feitas. “Todos tentam sacudir a água do capote”, aponta.
“O grande problema da floresta está no abandono, no mau tratamento”, destaca.
“A nossa floresta nunca esteve tão maltratada como está hoje em dia. Não se fez o mosaico florestal, as espécies autóctones, as linhas corta fogo, redefinição de zonas onde efetivamente nada podia ser feito”, enumera.
“A gestão do território florestal está mal elaborada, está muito no papel, mas não está no terreno”, critica, recordando ainda que mais 97% da floresta portuguesa “é privada”, sendo “preciso sensibilizar as populações”.
Ora, em Portugal existe “um problema cultural de fundo” e, se o país “aprendeu” com os trágicos incêndios de Pedrógão, em 2017, “já devia estar muito mais feito”.
Uma “alteração estrutural da floresta não se faz “em meia dúzia de dias”, mas “há mais de 50 anos” que a Liga anda a dizer o mesmo.
“Todos dizem que sim, fazem-se grandes reuniões, fazem-se grandes discussões. Fez-se um diagnóstico que está perfeito, mas o tratamento é com aspirinas de fraca qualidade, em vez de ser com antibióticos e um tratamento de choque. Ouvimos muitos discursos bonitos, muito investimento, mas olhamos para a floresta e vemo-la na mesma”, critica.
O que se impõe é “mudar a mentalidade” e impor uma “paisagem completamente alterada”, defende. “Demora décadas, (…) diria um século para pôr uma floresta como deve ser, mas tem de se começar a trabalhar”, urge, disse comentando que se fazem leis e livros de todas as cores, mas “a maior parte está a engalanar as prateleiras da Assembleia da República”.
“Enquanto não se fizer uma política séria de preparação da floresta, entendê-la como um bem de riqueza, um espaço de grande rentabilidade em variadíssimas atividades (…), cai sempre em cima dos mesmos, que são os operacionais que têm de combater os incêndios, na maioria esmagadora bombeiros”, nota.
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