A projeção consta do relatório final do projeto CLICTOUR, cujos resultados são hoje apresentados, na Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho, em Braga, e cuja análise das tendências de evolução climática permitiu identificar alguns impactes previsíveis, com destaque para o agravamento da ocorrência de incêndios florestais, a redução dos recursos hídricos disponíveis e o contínuo recuo da linha de costa.
O trabalho de investigação, que contou com a colaboração do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), incidiu sobre três áreas naturais protegidas – o Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), o Parque Natural do Alvão (PNA) e o Parque Natural do Litoral Norte (PNLN) — com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de um turismo resiliente às alterações climáticas nas áreas protegidas do Norte de Portugal.
No contexto do projeto CLICTOUR, a faixa litoral do PNLN foi monitorizada em diferentes momentos temporais, tendo sido possível, com recurso a drones, a criação de mapas digitais e modelos topográficos costeiros que permitiram projetar um recuo médio da linha da costa de 28 metros até 2043.
De forma geral, entre 2006 e 2023, a linha de costa retrocedeu em toda a faixa litoral do PNLN e só entre 2010 e 2023 foram 19 metros.
De acordo com o documento, a que a Lusa teve acesso, a área mais crítica de todo o Parque PNLN corresponde à faixa litoral entre a extremidade norte da Restinga de Ofir (foz do rio Cávado) e a Praia da Bonança.
Este segmento costeiro, aponta o estudo, além de possuir taxas de erosão bastante superiores às de outras zonas do PNLN, sofre de uma enorme pressão turística, sendo a Praia de Ofir uma das mais movimentadas na região nos meses de verão.
A existência de edifícios e infraestruturas de turismo e habitação próximas à linha de costa leva a que esta zona “seja uma das mais vulneráveis à subida do nível do mar, tanto a nível regional, como a nível nacional”, tendo sido concretizados vários projetos de defesa costeira nesta zona ao longo dos últimos anos.
Os resultados demonstram ainda que a linha de costa neste troço retrocedeu, em média, 10 metros entre 2006 e 2023 (1,12 metros/ano), contudo, em alguns locais, verificou-se, desde 2006, um avanço do mar superior a 70 metros, devido às variações da extremidade norte da Restinga de Ofir.
No âmbito do Programa da Orla Costeira Caminha-Espinho (POC-CE), e devido ao avanço do mar, no concelho de Esposende, estão previstas mais de uma centena de demolições, entre habitações, anexos e restaurantes, nas áreas críticas de Cedovém, Pedrinhas e Ofir Sul.
Em maio, questionado sobre as Torres de Ofir – área crítica identificada no POC-CE como ‘áreas sujeita a estudo’ – o presidente da Câmara de Esposende, Benjamim Pereira, considerou que, neste momento, não são um problema, sublinhando que seriam necessários cerca de 50 milhões de euros só para pagar a demolição das três torres.
Pela sua localização a sotamar do esporão sul de Ofir, a Praia da Bonança é, de acordo com o estudo, outro local problemático. Neste caso, o avanço do mar foi superior a 30 metros desde 2010. A destruição dunar foi de tal forma que implicou que o campo de futebol que serve o hotel existente no local tivesse de ser relocalizado mais para norte, para evitar a sua destruição.
Ao longo de toda a linha de costa, alertam, identificam-se infraestruturas, nomeadamente habitações, “que se encontram em perigo, sendo que nalguns casos já houve destruição de edificações por ação destes processos de erosão costeira”.
Para além do impacte direto destes processos nos ambientes costeiros, os investigadores constataram que eles apresentam impactes significativos para as diversas atividades ligadas ao turismo, quer pela redução de área útil para a sua prática (redução da área dunar e de praia), quer pela alteração das condições necessárias para a sua realização.
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