Segundo o vereador das Obras Municipais, Manuel Salgado, os trabalhos no Cais do Sodré e no Corpo Santo – que arrancaram em novembro de 2015, tendo também em vista o reordenamento do estacionamento e dos transportes públicos – estão “a correr bem” e “dentro do prazo que estava previsto”, que termina no primeiro trimestre deste ano.
Referindo-se à empreitada do Cais, Manuel Salgado precisou, em declarações à Lusa, que ali “faltam pequenos remates na ligação à Avenida 24 de Julho”, assim como “plantar as árvores e fazer algumas ligações elétricas”. “Há também pequenos remates no Corpo Santo, mas essa obra está muito adiantada”, assinalou. Já concluída está a ligação da Praça Duque da Terceira à Rua do Alecrim.
“A obra que está mais atrasada, mas também pensamos que até ao final do segundo trimestre deste ano ficará concluída, é a obra do Campo das Cebolas”, admitiu o vereador, explicando que neste local “houve muitos achados” arqueológicos que “não foram possíveis de detetar nas campanhas que foram feitas previamente”. Entre as descobertas estão um cais pombalino, cerâmica e duas embarcações.
“O problema já está ultrapassado e já se pode avançar na construção do parque de estacionamento”, adiantou Manuel Salgado, referindo que “a partir do final de março o tapume do lado da Avenida D. Henrique já vai poder recuar e, portanto, já vai ser possível repor a circulação normal”.
A intervenção, iniciada em outubro de 2015, prevê um parque de estacionamento subterrâneo e zonas de estadia na superfície.
Nas ruas do Arsenal e da Alfândega, a empreitada, que arrancou no verão passado, é mais simples e prevê o reperfilamento da via e dos passeios. Também aí as obras “estão concluídas”, apontou o autarca.
Ao abrigo do programa “Uma praça em cada bairro”, estão a decorrer intervenções nos largos de Santos e da Graça e na Rua de Campolide, que visam passeios maiores e mais áreas de estadia, além de mais árvores e melhor iluminação.
“Estão praticamente concluídas. A da Graça está mais atrasada porque a própria Junta de Freguesia pediu para se começar a obra mais tarde, porque tinha os arraiais e, portanto, houve aqui uma dilação”, apontou o responsável, dando conta de que ali também foram encontrados vestígios arqueológicos.
De acordo com Manuel Salgado, “qualquer uma destas três obras ficará concluída durante o primeiro trimestre deste ano”.
No âmbito deste programa, existem outras empreitadas que arrancam “na semana que vem”, como a da Alameda das Linhas de Torres. “São obras que já têm pouco impacto na circulação, são obras mais localizadas”, assinalou o autarca, aludindo ainda a trabalhos no Largo das Fontainhas e do Calvário e no Rossio de Palma, que acabam no terceiro trimestre de 2017.
Também no âmbito do programa "Uma praça em cada bairro", já arrancou a construção de um parque de estacionamento subterrâneo em frente ao Jardim Zoológico, na Praça Marechal Humberto Delgado (Sete Rios), que vai durar um ano. Enquanto não estiver pronta, haverá outros trabalhos como “alguns na frente do Jardim Zoológico”, referiu Manuel Salgado.
A Câmara, de maioria socialista, tem também em curso o programa “Pavimentar”, que já possibilitou a repavimentação de 88 quilómetros de rua de um total de 110 quilómetros previstos para o mandato.
Pronta está a intervenção no Eixo Central da cidade, abrangendo Saldanha e Picoas.
Ouvido pela Lusa, o vereador do CDS-PP, João Gonçalves Pereira, apontou fragilidades às obras em curso. “Eu percebo que o presidente da Câmara [o socialista Fernando Medina] tente passar uma mensagem de que as obras já acabaram, mas brevemente os lisboetas vão perceber que não só não acabaram, como vão continuar para além das eleições de 2017”, afirmou.
O social-democrata António Prôa considerou que a obra do Cais do Sodré “piorará o padrão de circulação” e o eleito do PCP Carlos Moura notou que esses trabalhos não estão a decorrer “com a velocidade que seria expectável”.
Oposição descontente com resultados: obras não resolvem os problemas de trânsito
Mais polémica, na opinião dos partidos da oposição na Câmara Municipal de Lisboa (PSD, CDS-PP e PCP), é a intervenção no Eixo Central (Saldanha/Picoas), a inaugurar no domingo, que apelidam de "obra de cosmética", considerando que não cumpriu o propósito de melhorar o trânsito.
"Está mais agradável à vista, seguramente. Esta zona da cidade ficou mais bonita", disse à Lusa o vereador do PSD António Prôa. Contudo, acrescenta, as intervenções "não puseram a cidade necessariamente mais funcional, nem ajudaram a resolver o problema que é o trânsito", e, por isso, constituíram "uma oportunidade perdida". "Aliás, esse é um padrão das obras, que foram ocorrendo todas ao mesmo tempo, todas com o mesmo sentido, que era o interesse eleitoral, mas que foram em grande medida obras de cosmética", concretizou.
Considerando que "é agora claro que as obras resultaram não de preocupações com a cidade, mas de preocupações com o interesse eleitoral do doutor Fernando Medina" (líder do executivo de maioria PS), Prôa apontou que a inauguração da intervenção, no domingo, "declara aberta a campanha eleitoral [socialista] para as eleições autárquicas em Lisboa".
Já Carlos Moura, do PCP, não quis atribuir ímpetos eleitoralistas à intervenção, mas admitiu que foi "terminada agora com um grande esforço de última hora", denotando "uma pressa para que [as obras] estivessem terminadas dentro de prazos aceitáveis". Apesar disso, o vereador apontou que esta "não foi uma obra rápida, demorou algum tempo, causou muitos constrangimentos".
"Nós sempre defendemos que as obras do Eixo Central eram necessárias, mas sempre dissemos também que o momento de as lançar, conjuntamente com uma série de outras obras, poderia complicar muito a vida aos que em Lisboa vivem e trabalham", acrescentou.
O autarca aproveitou também para criticar a diminuição do estacionamento à superfície, uma vez que "primeiro que tudo, teriam de existir bons transportes públicos para a cidade e capacidade de as pessoas encontrarem lugares de estacionamento dissuasor na periferia".
"Não é possível, sem encontrar alternativas para o acesso ao interior da cidade de Lisboa, pura e simplesmente cortar lugares de estacionamento e esperar que essas pessoas deixem de trazer a sua viatura, porque de facto muitas vezes elas não têm qualquer alternativa", advogou o comunista.
João Gonçalves Pereira (CDS-PP), por seu lado, não quis adiantar uma opinião final sobre a intervenção do Eixo Central. "Em matéria de estacionamento, de circulação e de mobilidade, essa avaliação ainda terá de ser feita", referiu, em declarações à agência Lusa, considerando que “os passeios mais largos e a existência de uma ciclovia são positivos".
"Houve aqui muita pressa e muita urgência em tentar fazer uma obra que tem erros de construção e uma parte da obra nem sequer foi feita", salientou, ainda assim, o vereador centrista.
O projeto do Eixo Central, em obras desde maio passado, possibilitou o alargamento dos passeios, a criação de zonas verdes, a repavimentação das faixas de rodagem, o reordenamento do estacionamento e a criação de uma ciclovia bidirecional.
A intervenção, orçada em 7,5 milhões de euros, gerou a contestação de alguns moradores e comerciantes pelos impactos no tráfego e no estacionamento. Em maio, o presidente da autarquia, Fernando Medina, admitiu que as obras de requalificação implicariam a redução de 60 lugares de estacionamento.
Associações de moradores dizem que Eixo Central não é virado para os lisboetas
No que respeita ao Eixo Central, as associações de moradores de Lisboa ouvidas pela Lusa juntam as suas vozes às dos partidos da oposição camarária e apontam críticas à obra, que será inaugurada no domingo, considerando que "não é virada" para os lisboetas.
O presidente da Associação de Moradores das Avenidas Novas, José Soares, que sempre foi crítico da intervenção, mantém a posição, elencando uma série de problemas. "Esteticamente está bonito, falta testar a funcionalidade, falta corrigir algumas questões de pormenor. Isto não é tão cor-de-rosa como foi pintado na altura", afirmou.
José Soares criticou o facto de as barcas com o brasão da cidade representado terem sido incorporadas no piso "em lajes de betão, quando isso não respeita um dos princípios básicos da calçada portuguesa, que é precisamente permitir a permeabilidade dos solos". Segundo o responsável, o município havia assegurado que "esse trabalho seria feito pelos mestres da escola de calceteiros".
Também o trânsito preocupa o representante dos moradores: “nos acessos à Avenida da República, nas laterais, nota-se um aumento".
O estacionamento motiva críticas ao executivo municipal de maioria socialista, uma vez que "ainda não foram criadas as bolsas" para residentes, que representariam "cerca de 60% dos lugares à superfície".
José Soares mostrou-se também incomodado com o facto de a Câmara ter deixado de contactar a associação. "A partir de agosto a Câmara simplesmente não quis mais saber de nós", apontou.
Luís Paisana, vice-presidente da Federação das Associações de Moradores da Área Metropolitana de Lisboa (FAMALIS), vai mais longe e considera que Lisboa "é uma cidade muito pouco virada para as pessoas, sobretudo para quem nela habita", uma vez que o município "vai gerindo a cidade para as pessoas e não com as pessoas".
"A estratégia da Câmara tem sido fazer obras, sobretudo porque estamos no período eleitoral, e depois então resolver os problemas que [daí] advêm", concretizou.
Referindo que a estratégia adotada passa por "abrir a cidade ao turismo", o vice-presidente da FAMALIS salientou que isto "não deverá ser mais importante do que os próprios cidadãos", que "não podem ser empurrados como um efeito colateral que depois se resolve".
"A solução a que chegámos é aquela que desde o princípio idealizámos: ter um espaço público amigável, em que o primeiro protagonista é o peão, mas sem que isso ponha em causa uma função absolutamente primordial que este eixo tem, que é a circulação dos automóveis, do transporte público, introduzindo outras valências como a bicicleta, que dantes não podia circular e agora pode circular em segurança", contrapôs a estas críticas o vereador socialista Manuel Salgado à Lusa. Apesar do aparecimento de alguns "problemas técnicos e imprevistos", foi possível "antecipar o prazo” da conclusão dos trabalhos, “o que é muito bom porque são menos incómodos para quem circula na cidade", referiu.
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