O chefe de Estado francês afirmou que há uma “grande confusão” na informação que circula desde sábado em Ouagadougou, e que quer esperar até que o Presidente burquinabê para o período de transição, Ibrahim Traoré, “se possa expressar”.
“Penso que temos de ser muito cuidadosos”, afirmou numa conferência de imprensa franco-alemã na capital francesa, acrescentando que Paris está “à espera de esclarecimentos de Traoré”.
Uma fonte próxima do governo burquinabê não identificada disse à Agência de Informação do Burkina (AIB) este sábado que as autoridades de Ouagadougou solicitaram “a saída dos soldados franceses num curto espaço de tempo”. A informação foi confirmada pela AFP junto de fonte governamental burquinabê.
A tensão entre os dois países cresce há vários meses, ao mesmo tempo que Moscovo se tem aproximado das autoridades do Burkina Faso, oferecendo ajuda no combate ao terrorismo extremista islâmico.
Segundo a AIB, “o Governo burquinabê denunciou na quarta-feira passada o acordo que tem regido a presença das forças armadas francesas no seu território desde 2018”.
“A denúncia, feita em 18 de janeiro de 2023, dá, nos termos do acordo de 17 de dezembro de 2018, um mês às forças armadas francesas para deixarem o território do Burkina Faso”, prosseguiu a agência nacional burquinabê.
Segundo a fonte próxima do governo, as autoridades de Ouagadougou solicitaram “a partida dos soldados franceses num curto espaço de tempo”.
“Isto não é uma rutura das relações com a França. A notificação apenas diz respeito aos acordos de cooperação militar”, sublinhou a mesma fonte.
A França, antiga potência colonial do país, tem vindo a ser contestada no Burkina Faso há vários meses.
Várias manifestações, a última na sexta-feira, foram recentemente realizadas em Ouagadougou para exigir a retirada da França daquele país do Sahel, que acolhe um contingente de cerca de 400 operacionais das forças especiais francesas.
Na semana passada, Paris enviou ao país a secretária de Estado francesa para o Desenvolvimento, Francofonia e Acordos Internacionais, Chrysoula Zacharopoulou, que se reuniu com o Presidente para o período de transição, Ibrahim Traoré.
As atuais autoridades do Burkina Faso, que chegaram ao poder através de um golpe de Estado em setembro último, o segundo em oito meses, expressaram o desejo de diversificar as suas parcerias, particularmente na luta contra o extremismo islâmico, que se expande no país desde 2015.
Entre os novos parceiros previstos, é frequentemente apontada a aproximação da Rússia.
“A Rússia é uma escolha razoável nesta dinâmica, e “pensamos que a nossa parceria deve ser reforçada”, disse hoje o primeiro-ministro para a transição, Apollinaire Kyelem de Tembela, no final de uma reunião com o embaixador russo no país, Alexey Saltykov.
Tembela fez uma visita discreta a Moscovo no início de dezembro.
Macron insistiu hoje na necessidade de ser tomado cuidado com a manipulação de informação, “uma especialidade de alguns na região” que afirmou que podem ter ligações com a Rússia.
As autoridades francesas acusam regularmente a Rússia ou os seus serviços de tentarem manipular a opinião pública no continente africano, suscitando sentimentos antifranceses.
Também as autoridades de transição no Mali, vizinho do Burkina Faso, fizeram as forças francesas abandonar o país, depois de nove anos de presença.
De acordo com múltiplas fontes, o Mali substituiu o contingente francês por operacionais do grupo paramilitar russo Wagner, que agora o apoiam na luta contra o extremismo islâmico.
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