“Pelo menos desde 2012, quando se iniciou a operação Orange, a polícia inglesa recebeu da Polícia Judiciária todos os elementos que estavam no nosso processo referente ao caso do desaparecimento da criança. Se Christian Bruckner lá estava, como lá estavam centenas de pessoas e se fossem assim tão evidentes as suspeitas sobre essa pessoa, teria sido alvo de diligências pedidas pelos ingleses, e que sempre foram autorizadas em Portugal, mas nunca solicitaram”, afirmou hoje o diretor-adjunto da Polícia Judiciária à agência Lusa.
Confrontado com criticas à atuação da PJ publicadas por alguns órgãos de comunicação social britânicos, Carlos Farinha refuta-as e afirma de forma perentória que “a falta de relevância que é atribuída à PJ em relação a Bruckner é a mesma que se pode atribuir à Scotland Yard ou à Metropolitan Police, pelo menos desde 2012, porque os dados que havia sobre o cidadão eram também do conhecimento deles”.
As suspeitas do envolvimento de um cidadão alemão no desaparecimento da criança inglesa de três anos na Praia da Luz, no Algarve, adensaram-se apenas em 2017 quando um outro cidadão alemão forneceu informações à Scotland Yard.
“Depois disso, com a ajuda da PJ, conseguiu-se descodificar a quem dizia respeito essa informação, chegando-se ao atual suspeito, tendo sida ativada a polícia alemã (BKA)”, disse o diretor-adjunto da Polícia Judiciária.
Para Carlos Farinha, “em tese tudo poderia ter sido diferente”, mas “em 2007 [altura do desaparecimento de Maddie] e em 2012 não se sabia o que se soube em 2017 e os desenvolvimentos posteriores foram também fruto do cruzamento de informações com a PJ. Houve depoimentos obtidos na Alemanha e em Portugal”.
Sobre o trabalho das três polícias neste caso, que já tem 13 anos, o diretor-adjunto da PJ nega que haja algum “mal-estar” entre instituições, garantindo que se sempre houve uma “franca e aberta cooperação, mesmo quando houve perspetivas divergentes” sobre o caso.
“Nos últimos tempos houve um aumento de convicção por parte dos investigadores e, através do apelo público, pode ser possível recolher mais informações referentes ao ano de 2007 ainda desconhecidas. O facto de ter sido tornado público o suspeito e feito o apelo foi uma iniciativa da polícia alemã BKA que está convictamente à espera de receber informações adicionais da comunidade alemã”, frisou Carlos Farinha.
“Os dados estão lançados e agora estamos na fase de receber coisas que possam ser relevantes, vamos analisá-las em conjunto e depois decidir os passos seguintes do ponto de vista processual, sendo certo que o que será feito a seguir pode ser decisão consensual das três polícias ou cada uma fazer o que entende porque cada uma tem legitimamente o seu processo”, destacou.
Apesar de, desde 2017, a investigação se ter debruçado sobre o cidadão alemão, “têm-se adensado algumas suspeitas que infelizmente ainda não são suficientes para constituir arguido e acusação”, afirmou.
Um dos nomes incontornáveis quando se fala do desaparecimento de Maddie é o antigo inspetor da PJ de Portimão Gonçalo Amaral, ainda hoje alvo de críticas da imprensa inglesa e que chegou a ter um contencioso jurídico com os pais da criança.
Sobre o assunto, Carlos Farinha lembrou que Gonçalo Amaral saiu da PJ em 2008 e que “depois disso muitas pessoas trabalharam e trabalham no processo”, lamentando que o nome continue a ser relacionado com a investigação.
Christian Bruckner, de 43 anos, está detido na Alemanha por ter violado uma mulher norte-americana de 72 anos em 2005 no Algarve, onde viveu entre 1995 e 2007.
Após o apelo público da BKA, o Ministério Público alemão de Braunschweig assumiu que Maddie deverá estar morta.
Madeleine McCann desapareceu em 03 de maio de 2007, poucos dias antes de fazer quatro anos, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico na Praia da Luz e o seu desaparecimento tornou-se um caso mediático à escala global.
A polícia britânica começou por formar uma equipa em 2011 para rever toda a informação disponível, abrindo um inquérito formal no ano seguinte, tendo até agora gasto perto de 12 milhões de libras (14 milhões de euros) no processo.
A Polícia Judiciária (PJ) reabriu a investigação em 2013, depois de o caso ter sido arquivado pela Procuradoria Geral da República em 2008, ilibando três arguidos, os pais de Madeleine, Kate e Gerry McCann, e um outro britânico, Robert Murat.
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