A polícia espera novas manifestações violentas em diversas cidades do Reino Unido, com perto de 30 protestos convocados através de WhatsApp, Telegram e X (antigo Twitter), para hoje e para a noite de quarta-feira.

Desde sexta-feira, já foram presas mais de 400 pessoas nos motins em todo o país. Até agora estavam mobilizados quatro mil polícias, aos quais vão junta-se cerca de 2.200, uma informação confirmada pela ministra da justiça na Times Radio.

O que está a causar tanta agitação?

A gota de água foi o ataque há uma semana, a uma escola em Southport (noroeste de Inglaterra), que resultou na morte de morte de três crianças, uma delas portuguesa, assassinadas à facada por um jovem britânico.

As notícias, entretanto desmentidas, davam como certo que o autor do crime era um imigrante muçulmano. De facto, trata-se de jovem de 17 anos nascido em Cardiff, no País de Gales, com família de origem ruandesa.

A crise económica no Reino Unido têm levado a população a extremar posições em relação aos imigrantes, que acusa de estarem a roubar empregos habitações e a fazer subir a taxa de criminalidade.

O que diz a extrema-direita de Nigel Farage?

A polícia culpa sobretudo grupos de extrema-direita como a English Defence League (Liga de Defesa Inglesa), criada há 15 anos, cujas ações contra a imigração têm sido frequentemente marcadas por explosões sociais.

Alguns comentadores e legisladores acreditam que o aumento da narrativa política anti-imigração está a legitimar os manifestantes. É o caso Nigel Farage, que defendeu o Brexit no Parlamento Europeu, atual deputado e líder do Reform UK, partido de extrema-direita que ficou em terceiro lugar nas eleições de há um mês.

Nigel Farage estava em Hong Kong quando os protestos rebentaram pelo Reino Unido e pediu imediatamente uma sessão parlamentar extraordinária para debater o tema da violência e do racismo, como o próprio anunciou nas redes sociais.

O Reino Unido não enfrentava uma onda de violência como esta desde 2011. No domingo, em Rotherham, no norte da Inglaterra, centenas de manifestantes partiram janelas, provocaram incêndios e lançaram projéteis contra agentes da polícia, enquanto gritavam palavras de ordem como "expulsem-nos", referindo-se aos imigrantes.

A noite de segunda-feira voltou a ser marcada pela violência, nomeadamente em Belfast (Irlanda do Norte) e em Plymouth (sudoeste de Inglaterra) onde várias pessoas, incluindo agentes, ficaram feridos.

O que está a fazer o governo?

O primeiro-ministro recentemente eleito, o trabalhista Keir Starmer prometeu esta segunda-feira que o governo vai "fortalecer a justiça criminal" para garantir sanções "rápidas" num momento, em que o país está confrontado com as imagens de ataques a abrigos para refugiados e mesquitas, saques a lojas e confrontos com a polícia nas ruas.

No entanto, ainda no mês passado o secretário de Estado da Justiça afirmou que as prisões britânicas estão "à beira do colapso", com uma capacidade de ocupação de 99%.

Keir Starmer que descreve os manifestantes como "bandidos de extrema-direita", já reuniu o gabinete de crise na sua residência de Downing Street.

O primeiro-ministro garante que será criado um contingente permanente de polícias treinados para fazer face a novos confrontos. "O meu objetivo é acabar com esses distúrbios", declarou.

A violência representa um grande desafiou para Starmer, advogado de direitos humanos e ex-chefe do Ministério Público britânico.

Quantos portugueses estão no Reino Unido?

Estima-se que haja 400 mil portugueses no Reino Unido, embora os números tenham vindo a baixar desde o Brexit.