Os dados da APAV, a que a agência Lusa teve acesso, dão conta que nos anos de 2021 e 2022, 3.122 idosos recorreram à associação por serem vítimas de crimes ou de violência, a maioria mulheres (76,6%), com idade entre os 65 e os 74 anos (49,3%), de nacionalidade portuguesa (93,5%) e reformadas (52,1%).
Os números são apresentados em antecipação do Dia Internacional da Pessoa Idosa, que se assinala no dia 01 de outubro, e revelam que, em média, a APAV apoia todos os dias quatro pessoas idosas vítimas de crime ou de violência.
Em declarações à agência Lusa, a gestora do projeto Portugal Mais Velho salientou que em 2022 há uma ligeira diminuição (4,1%) face ao ano anterior, tendo-se registado 1.528 pedidos de ajuda, depois de em 2021 terem sido 1.594, mas Marta Carmo apontou que isso não é significativo para se poder aferir que estes casos estão a diminuir.
Sublinhou que “se mantém um número bastante elevado de pessoas que recorrem aos serviços da APAV” e admitiu que, tendo em conta que estes números dizem apenas respeito ao trabalho da associação, muitos outros casos ficaram de fora, tendo em conta que as estimativas apontam para que cerca de 80% das pessoas não apresente queixa às autoridades.
“Temos noção de que este número será bastante reduzido em comparação com aquilo que será a realidade”, defendeu, sublinhando que “estes números são impactantes”.
Por outro lado, chamou a atenção para “uma das coisas que se sabe acerca da violência contra pessoas idosas” e que tem a ver com o facto de “na sua maioria, [ser] cometida no seio familiar e por pessoas muito próximas”.
“Quer em 2021, quer em 2022, destacaram-se as situações de violência perpetradas pelos filhos ou filhas das vítimas e depois destaca-se também a violência entre cônjuges”, referiu a responsável.
Já no que diz respeito ao tipo e à duração da vitimação, Marta Carmo destacou que “há uma maior preponderância para vitimação continuada, por oposição a uma vitimação de apenas um facto violento”.
“Há aqui uma maior percentagem das vítimas que se encontra numa situação de vitimação até entre 2 a 6 anos até denunciar ou pedir apoio”, revelou.
Acrescentou que o local mais comum para a ocorrência dos crimes “é precisamente a residência partilhada da vítima com a pessoa agressora, seguindo-se depois a residência apenas da vítima”.
Marta Carmo chamou também a atenção para o facto de os dados da APAV irem ao encontro das estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) — segundo a qual cerca de 80% das vítimas não apresenta queixa — já que a maioria (49,8%) das pessoas idosas que pede ajuda à associação não fez denuncia às autoridades policiais.
Tanto para esta questão, como para o facto de a vitimação durar entre dois a seis anos, a responsável tem a mesma explicação: a proximidade entre vítima e agressor, que traz um fator emocional e uma relação afetiva com a pessoa que é a causa da violência, que torna a decisão de denunciar “mais complicada do que noutro tipo de situações”.
“Se pensarmos, por exemplo, em pessoas idosas que apresentem já alguma dependência de cuidados, (…) a vítima pode muitas vezes pensar que “se eu denunciar esta situação depois vou ficar sem a pessoa que me dá este apoio”, exemplificou.
Outra explicação pode ter a ver com o facto de o idoso não reconhecer que a violência de que é alvo é crime.
“Muitas vezes, especialmente aqui nas relações familiares e a partir do momento em que as pessoas começam a envelhecer, há aqui uma normalização não só por parte das pessoas que são vítimas, mas de toda a sociedade [em relação] a uma série de comportamentos, quer ao nível da violência psicológica, por exemplo, quer ao nível da violência económica ou financeira”, salientou.
Marta Carmo referiu ainda que, no que diz respeito ao tipo de crime, se destaca a violência doméstica, mas também os crimes de ameaça e coação, “que também são significativos”.
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