“Somos dos países da Europa que mais testa. Isto são doenças silenciosas, doenças que as pessoas não sabem que têm e podem ter durante 20/30 anos. Toda a gente devia fazer os testes de hepatite B, hepatite C e da SIDA pelo menos uma vez na vida”, disse Rui Tato Marinho.
Em entrevista à Lusa, o diretor do PNHV salientou a importância da testagem porque permite “identificar pessoas que não sabem que têm a doença, vacinar, curar e proteger a família e outras pessoas”, uma vez que estão em causa doenças infecciosas.
Esta é uma das recomendações do Relatório do Programa Nacional para as Hepatites Virais 2024, que é apresentado hoje às 11:00 na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos, no Porto.
O PNHV é um dos programas de saúde prioritários da Direção-Geral da Saúde (DGS) e este documento procura caracterizar a atual situação das hepatites virais em Portugal.
Nele estão descritas as características, clínicas e sociais, e sintetizadas as principais atividades de vigilância epidemiológica, prevenção, diagnóstico e tratamento desenvolvidas no ano passado, sendo traçado um roteiro de ação para 2025.
Os dados de vigilância epidemiológica sobre hepatites A, B (incluindo a Delta), C e E foram obtidos a partir da plataforma de suporte ao SINAVE (Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica), sendo salvaguardado que os dados referentes a 2023 são ainda provisórios.
No documento lê-se que “os testes para o diagnóstico de VHB [vírus da hepatite B] e VHC [Vírus da hepatite C] prescritos e realizados anualmente em contexto hospitalar e nos cuidados de saúde primários têm demonstrado uma tendência globalmente crescente”.
Os autores do relatório acreditam que este aumento seja “provavelmente fruto da maior atenção dirigida às hepatites virais B e C nos últimos anos, apoio às populações-chave e grupos vulneráveis, bem como, no contexto da vigilância de saúde global das pessoas”.
Ao nível dos cuidados de saúde primários, em 2023, foram prescritos e realizados 289.959 testes de AgHBs (antigénio de superfície do vírus da hepatite B) e 218.566 testes de anti-VHC (anticorpo contra o vírus da hepatite C), verificando-se um aumento de 4% e 8%, respetivamente, quando comparados com 2022.
No entanto, salvaguardam os autores, “estes resultados podem estar subestimados em termos de intervenção diagnóstica pois, em muitas unidades de saúde, há possibilidade de realização de testes rápido para VHC [vírus da hepatite C], não existindo, à data, um procedimento padronizado e validado para a sua monitorização a nível nacional”.
“Ou seja, o aumento é positivo, mas queremos mais”, resumiu, à Lusa, Rui Tato Marinho.
O relatório também aponta que, de acordo com a plataforma Bilhete de Identidade dos Cuidados de Saúde Primários (BI-CSP), se constatou desde 2021 um crescimento sustentado das hepatites virais, registando-se em dezembro de 2023 uma proporção de 0,61% na população utilizadora dos Cuidados de Saúde Primários com o diagnóstico de hepatite viral (55.927 casos).
“Verificou-se o registo de 1.661 novos casos em relação a 2022”, lê-se no documento.
Encontram-se mais pessoas do sexo masculino do que do sexo feminino com hepatites virais como problema ativo, na sua maioria entre os 45 e os 64 anos, sendo a região de Lisboa e Vale do Tejo a que tem mais utentes.
Mas os autores também alertam que estes dados “poderão não traduzir valores reais e fidedignos de incidência e prevalência de hepatites virais no país, na medida em que vários vieses podem ser identificados”.
Outra das recomendações passa pela sensibilização dos clínicos e pelo reforço da formação das equipas de cuidados de Medicina Geral e Familiar sobre a importância dos registos, da atualização periódica da Lista de Problemas e da notificação através da plataforma de suporte ao SINAVE, mesmo que “se trate de um caso provável”.
Rui Tato Marinho vai mais longe e pede que “a filosofia do PNHV seja colocada em prática mais ativamente, até porque essa é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) que escolheu Portugal, em abril, para realizar a World Hepatitis Summit 2024, uma reunião que juntou governos e profissionais de saúde, organizações da sociedade civil, decisores políticos, académicos e pessoas que vivem ou viveram com hepatites de mais de 100 países.
“A filosofia do programa há muitos anos é integrar os cuidados hospitalares, a Medicina Geral e Familiar, os cuidados de saúde primários, a saúde pública e o mundo social”, disse o diretor, que lidera este programa há três anos.
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