O Presidente da República deve dissolver o parlamento e realizar eleições, porque o sistema está bloqueado, defendeu num discurso em crioulo Sana Canté, presidente do Movimento de Cidadãos Conscientes Inconformados, que organizou o protesto.
Um cordão policial e militar de algumas dezenas de elementos com metralhadoras, escudos, capacetes e coletes à prova de bala manteve a contestação fora da Praça dos Heróis Nacionais e do Palácio da Presidência.
Os manifestantes concentraram-se durante toda a manhã a poucos metros, na Avenida Amílcar Cabral, cara a cara com militares e polícias.
Os dois lados envolveram-se nalguns momentos de tensão quando a polícia lançou gás lacrimogéneo para afastar manifestantes, um episódio isolado num protesto que decorreu de forma pacífica.
A manifestação foi animada por um carro de som que serviu de palco para discursos, intercalados com música e gravações de intervenções políticas.
Numa delas ouviu-se o Presidente da República, José Mário Vaz, durante a campanha eleitoral de 2014, a garantir que se fosse eleito ia dar quatro anos de estabilidade ao novo governo – mas acabaria por demitir o executivo um ano depois, dando início a uma crise da qual o país ainda não conseguiu sair.
O público na manifestação reagiu com apupos e palavras de ordem: “Basta, Jomav”, nome pelo qual o chefe de Estado já era conhecido enquanto empresário em Bissau.
“É Jomav ou Jomau”, perguntou em palco, pouco depois, Luís Nancassa, ex-presidente do Sindicato Nacional de Professores (SINAPROF) – primeira organização civil criada em democracia – com o público a responder em coro: “Jomau”.
Em crioulo, o público gritou também “o povo i ka lixo”, ou seja, “o povo não é lixo”, outra das frases mais vezes entoadas ao longo da manhã.
Parte dos manifestantes dispersou depois de uma vaga de discursos pelas 13:00, mas outros prometem manter-se cara a cara com o cordão policial durante o resto do dia.
Além do Movimento dos Cidadãos Conscientes Inconformados, associaram-se também ao protesto o movimento “Minjderis di Guiné No Lanta” (Mulheres da Guiné-Bissau levantemo-nos), ou Miguilan, e a associação Cidadãos do Mundo, que tem defendido que o país deve ter uma gestão transitória das Nações Unidas.
A manifestação acontece no mesmo dia em que uma delegação da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) chefiada pela presidente da Libéria, Ellen Johnson, está de visita a Bissau e a reunir com os dirigentes políticos para tentar encontrar uma solução para a crise.
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