Na sua intervenção, hoje, em Coimbra, na abertura do congresso que celebra os 20 anos da atribuição do Prémio Nobel de Literatura a José Saramago (anunciado em 08 de outubro de 1998), Marcelo Rebelo de Sousa lembrou as variadas vezes que se cruzou com o escritor e com a companheira deste, Pilar Del Río, ao longo da vida, "uns ocasionais, outros intencionais".
"Cruzámo-nos naquele dia de outubro de 1998, sendo eu líder de um partido [o PSD] cujo Governo tinha sido motivo invocado para que José Saramago zarpasse de terras de Portugal para ilhas espanholas", disse o chefe de Estado, aludindo ao episódio de veto atribuído pelo subsecretário de Estado da Cultura, do governo de Cavaco Silva, António Sousa Lara, à obra de Saramago.
O Presidente da República revelou que as pazes do PSD, que então liderava, foram seladas com o escritor, nesse dia, seis anos depois do episódio que levou José Saramago a 'exilar-se' em Espanha: "Nesse dia (...) atravessei uma praça madrilena para ir dar um abraço a José Saramago, pondo assim fim àquilo que era uma falta de senso e falta de gosto ao mesmo tempo, em termos de vivência na sociedade portuguesa".
Mais tarde, em 2004, por conta de um "episódio" que não especificou - mas que estará relacionado com a sua saída de comentador da TVI, na sequência de alegadas pressões do governo do PSD então liderado por Pedro Santana Lopes - Marcelo Rebelo de Sousa disse ter recebido a solidariedade de José Saramago.
O chefe de Estado lembrou ainda que se cruzou com Saramago quando ambos eram autarcas em Lisboa - o escritor presidiu à Assembleia Municipal durante poucos meses, em 1990, quando o atual PR era vereador da oposição no executivo liderado por Jorge Sampaio - e, outra vez, na apresentação de uma das suas obras "mais polémicas", "Ensaio sobre a Lucidez", feita por Marcelo e pelo então Presidente da República Mário Soares, numa sessão que também contou com o antigo reitor da Universidade de Lisboa José Barata Moura.
"Também nos descruzámos várias vezes, a vida é feita de cruzamentos e descruzamentos", argumentou o chefe de Estado.
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