“Marcelo Rebelo de Sousa tem sido o principal cúmplice do crescimento desta corrupção, porque nada fez, e competia-lhe, enquanto Presidente da República, exigir uma estratégia global de combate à corrupção, que nunca existiu”, disse Paulo de Morais, à margem da apresentação do seu livro “O Pequeno Livro Negro da Corrupção”, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.
O economista e antigo candidato às eleições presidenciais, em 2016, advogou que o atual chefe de Estado “pecou pela inação” em matéria de combate à corrupção e porque “desculpabiliza tudo”.
“Desculpabiliza o Governo, desculpabiliza os incêndios, desculpabiliza Tancos, acaba por anestesiar a opinião pública. Obviamente que uma opinião pública anestesiada não tem capacidade de intervenção cívica e de combate a fenómenos como a corrupção”, prosseguiu, sublinhando que, “em matéria de corrupção, quem não a combate acaba por ser cúmplice”.
Questionado pela agência Lusa sobre se pondera apoiar formalmente a candidatura presidencial de Ana Gomes - uma vez que disse, em entrevista ao Jornal Económico publicada em 13 de setembro, que votaria na candidata -, Paulo de Morais considerou, no entanto, que “ainda é cedo para isso”.
O professor universitário explicitou que viu “com alegria” a chegada da antiga eurodeputada à corrida presidencial, mas saúda quaisquer candidatos que “venham com um discurso diferente”.
Contudo, Paulo de Morais espera que a candidatura de Ana Gomes seja “livre dos partidos”.
As presidenciais “estão capturadas pelos partidos, os partidos tentam dominar as eleições presidenciais”, quando estas “são eleições de candidatos, de cidadãos individuais”, referiu.
Para o antigo candidato, Ana Gomes “parece ser uma candidata fora da lógica partidária”, apesar de ser militante do PS, e “tem sido uma combatente contra a corrupção”.
“Daí a um apoio formal é prematuro e depende do programa que ela venha a apresentar”, concluiu.
Durante a apresentação da obra “O Pequeno Livro Negro da Corrupção”, Paulo Morais disse que o livro “pretende ser uma amostra do que é a corrupção”, para que “fique um registo, para conhecimento presente e memória futura de quem são os casos, quais são os responsáveis, quais são todos aqueles que fazem com que Portugal, podendo ser país rico, tenha neste momento mais dois milhões de pobres”.
“Para que no presente se perceba quem nos trouxe até aqui e para que no futuro não se atribuam nomes de alamedas, avenidas e rotundas a muitos destes vigaristas que aqui estão presentes [no livro]”, acrescentou
A obra foi apresentada pela antiga procuradora-geral da República Joana Marques Vidal, que considerou que este “não pretende ser um livro científico, no sentido de aprofundar o tema da corrupção” em Portugal, mas “um registo” que “permita avançar”.
Joana Marques Vidal lamentou a “tolerância que existe” em relação “aos fenómenos corruptivos”.
“Até há pouco tempo, quem não soubesse fugir aos impostos era um parvalhão”, ironizou a antiga Procuradora-geral da República, explicando que o país tem “um problema cultural” em matéria de corrupção, com “raízes profundas”.
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