Quem ganhou?
Luís Montenegro usou a estratégia de colar Mariana Mortágua a Pedro Nuno Santos, da qual a líder do Bloco de Esquerda não se conseguiu descolar. O líder do PSD conseguiu falar ao público do centro e apelar ao voto útil. Foi uma vitória pífia, mas foi uma vitória.
Quem perdeu? Foi por KO?
Mariana Mortágua conseguiu lembrar a deputada das comissões de inquérito bem preparada e incisiva. Mas não foi o suficiente para desmontar a estratégia de Montenegro, que levava a lição estudada para o público que queria cativar. Não houve KO de todo, muito longe disso, principalmente com a energia de uma Mariana Mortágua ao ataque.
Promessas:
Saúde:
Mariana Mortágua diz que o bloco defende soluções enquanto que o PSD defende o agravamento dos problemas. Critica a proposta do PSD do cheque cirurgia, diz que "existe há dez anos e as filas de espera só aumentaram. 88% das pessoas rejeita o cheque cirurgia porque não querem serem enviadas para o outro lado do país, para um médico que não conhecem, para serem operadas por uma equipa em quem não têm confiança." Acrescenta que "neste momento a maioria das queixas no portal da queixa da saúde são queixas por atrasos nos privados", e continua dizendo que "se todos os doentes fossem enviados para o privado, o privado não teria resposta", apenas se fosse contratar médicos ao público, e "o resultado é que o Estado estaria a pagar ao privado para tirar os médicos do SNS, e como consequência a lista de espera no SNS aumentava".
Mariana Mortágua diz que o problema de gestão do SNS será para discutir com o PS - com quem está em conflito nesse tema e não com o PSD -, acusa Montenegro de não saber qual é o problema do SNS e apenas querer incluir o privado sem resolver os problemas. Por outro lado, o BE defende um regime de exclusividade no SNS, e garante que o BE tem contabilizados 500 milhões de euros para contratação de médicos.
Luís Montenegro apontando a falácia do argumento de Mortágua, cujo cenário punha "todos os doentes a escolher o privado", acrescenta que confia muito SNS e, por isso, pretende "salvá-lo de uma caminhada de degradação" da qual, diz, Mariana Mortágua faz parte. E explica a acusação: este é "o pior momento do SNS, depois de três governos do PS, dois dos quais tiveram apoio do BE. Foi com estes governos que em Portugal mais pessoas tiveram necessidade de contratar seguros de saúde. Mais de 3 milhões e 300 mil portugueses, a que se juntam um milhão e cem mil que têm ADSE, e mais de uma centena de milhar de portugueses que tem subsistemas de acesso à saúde privada."
A AD propõe nos primeiros nos "primeiros 60 dias de governo aprovar um programa de emergência que tem três linhas fortes":
- médico de família para todos os portugueses. Mas sabendo que não há médicos para todos no SNS, a proposta é "colocar o SNS em colaboração e complementaridade com a oferta privada e social";
- fazer o mesmo em relação às listas de espera. "O voucher para as cirurgias que nós propomos vai automaticamente ser endossado ao doente no dia em que o tempo máximo de resposta for excedido";
- em 2024/2025 acabar com as listas de espera.
Habitação:
Mariana Mortágua começa com os 40% de aumento sobre o preço da habitação na Madeira e no Funchal, para mostrar "a brutalidade que tem toda a marca do PSD". Sara Pinto, a moderadora, insiste na medida que o BE propõe de tetos às rendas, sabendo-se que é uma medida que tem falhado em várias cidades da Europa, Mariana Mortágua foge de falar no falhanço da medida e diz "que o que não funciona é €1500 por um T1 em Lisboa", e continua explicando que é "bom senso" criar limites às rendas. "A maior parte das cidades, metade dos países da OCDE, têm regras nas rendas. Há 13 países da União Europeia que têm regras na renda inicial. O Reino Unido tem regras."
E aproveita para lembrar outra das propostas que traz para estas legislativas, "baixar os juros no crédito à habitação". Avança ainda com "uma proposta muito concreta": "se a CGD baixar a sua taxa de juro em 1,5 pontos percentuais em todos os créditos, permitindo que as pessoas mudem para a CGD, num empréstimo de 150 mil euros isto significaria uma poupança de 1600 euros por ano, para cada família". Assegura ser uma proposta, "concretizável, concreta e que cabe nas contas da CGD".
E acusa Montenegro de ser responsável pelo despejo dos idosos do centro das cidades.
Luís Montenegro diz que a visão de que é possível tabelar o preço das casas é o que faz com que não haja oferta no mercado. "Não havendo oferta de casas no mercado, o preço vai naturalmente subir", por isso diz ter que se "atuar sobre a oferta e a procura", e propõe na oferta "facilitar a vida aos promotores e aos investidores: menos burocracia, regras mais ágeis e menos fiscalidade. Menos castigo fiscal que impede a atração de investimento."
Mas, ao mesmo tempo diz que se tem que "dar condições de acesso" aos cidadãos, "principalmente aqueles que têm mais necessidades, como os jovens". E, por isso, defende a "isenção de imposto municipal sobre as transmissões onerosas e sobre imposto de selo, para os jovens".
E ainda subsídios ao arrendamento, passíveis de serem concilidados com mecanismos de PPP. "Se houver contratualização dos privados com o Estado para que os empreendimentos possam ter menos risco, o preço possa ser tabelado por essa via - tabelado no sentido de ser colocado no mercado a custos controlados. E no caso do arrendamento com rendas até pre-negociadas, mas é em colaboração. Os investidores não vêm por acaso, vêm se lhe derem garantias".
Por fim, sugere dar aos jovens a garantia pública de cobrir a parte do empréstimo que eles não obtêm no acesso ao crédito à habitação.
Economia
Mariana Mortágua, questionada sobre a proposta do PSD de um 15º mês livre de impostos para quem cumprir objetivos de produtividade, diz que "a única forma que PSD tem de agir sobre a economia é garantir ou dar dinheiro público para grandes empresas fazerem aquilo que deviam fazer". E atira outra pergunta: "se é preciso subir os salários porque é que não se sobem os salários? Porque é que se engana as pessoas dizendo que o salário não sobe, o que desce é o imposto sobre aquele salário?" Neste momento aproveita para lançar a proposta do BE: "Há um princípio em Portugal que diz que o salário paga um imposto que deve ser justo e, por isso, o BE defende uma dedução específica que aumente em 500 euros para todos os cidadãos." Acrescentando que se por um lado o imposto deve ser justo, o salário que as pessoas recebem deve pagar com justiça a contribuição para a segurança social, "porque é isso que nos diferencia do séc. XIX". E conclui, "eu defendo aumentos salariais, não defendo engodos".
Acusa o PSD de querer descer os impostos da banca, da grande distribuição e da energia. Lembra que tanto o PSD, como o BE propõe descida do IRS, e que o do BE "está contabilizado e custa 256 milhões de euros". Propõe também a descida do IVA da energia e acusa o PSD de não ter votado a favor da medida no passado.
Luís Montenegro, por seu lado, acredita que "impostos elevados comprimem a capacidade de um país criar riqueza e através da criação de riqueza pagar melhores salários". E, assim, sugere que o caminho seja "começar por dar folga à classe média que está fustigada, asfixiada de impostos por todo o lado." Sugerindo uma baixa do IRS, que custará mil milhões de euros, diz querer "privilegiar os jovens que estão a fugir de Portugal e que fugiram durante os últimos anos". Outra das propostas é premiar a produtividade, "aqueles que têm mais esforço, melhor resultado, poderem receber uma parte livre de impostos e de contribuições face aquilo que é o seu mérito".
E acordos pós-eleitorais?
A primeira pergunta de Sara Pinto a Luís Montenegro é se Bolieiro lhe garantiu que não faria acordos com o Chega. O líder do PSD demorou-se primeiro na situação social dos Açores, em resposta à líder do BE, e perante a insistência da jornalista da TVI, acaba por dizer: "eu creio que José Manuel Bolieiro foi muito inequívoco, muito claro, na alocução que fez na noite das eleições. Na qual disse ao país, e também aos açorianos, que estava disposto a governar com a maioria relativa que os açorianos lhe deram nas urnas". "Só há uma forma de obstacolizar a este governo. É se todas as outras forças políticas, mas em particular, o Partido Socialista e o Chega se unirem. Se houver uma coligação do Chega com o Partido Socialista haverá uma solução de governo diferente. Não havendo, não há ninguém que possa ter uma representação tão grande, ainda para mais com a legitimidade de ter sido um reforço eleitoral".
Luís Montenegro várias vezes atirou a Mortágua a sua vontade da líder do BE ser "parceira de Governo" de Pedro Nuno Santos, a líder do Bloco nunca respondeu nem reagiu às provocações.
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