“Neste momento o sentimento dominante é a gratidão. Gratidão por um reconhecimento de um trabalho que foi desenvolvido ao longo dos anos, e nesse reconhecimento está também um estímulo para continuar a fazer aquilo que me for possível fazer. É de facto muito gratificante perceber que uma cidade e uma Faculdade [de Letras], que está nessa cidade, perceberam ou acharam, que eu merecia esta distinção. Fiquei muito feliz”, revelou o escritor aos jornalistas, após a cerimónia de entrega do título.
Na cerimónia de investidura do título Doutor Honoris Causa, Mário Cláudio foi esta tarde ovacionado de pé pelos convidados, no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto, e contou com a ex-ministra da Cultura Isabel Pires de Lima a proferir o elogio do doutoramento.
Durante a cerimónia, a diretora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro, colocou o anel a Mário Cláudio, como símbolo de colegialidade e irmandade com os restantes doutores, entregou-lhe o Livro, como símbolo de sabedoria, bem como o diploma de doutoramento.
No discurso que proferiu no Salão Nobre da Reitoria da Universidade do Porto, o escritor com cerca de 60 obras publicadas recordou a sua avó e as dádivas de “pastilhas de chocolate” que recebia quando se “comportara bem”, pastilhas essas que estavam guardadas num armário fechado à chave dentro de um “cartuchinho de cor creme, atravessado por carateres que diziam Regina”.
“Ao vasculhar o sótão das memórias fantásticas, descubro que a distinção que hoje me oferecem constitui aquilo que se mostra de mais chegado ao galardão com que a minha avó me contemplava. Sem dúvida que ao escritor criativo, e por muito que dele se exija, o bom comportamento aferido pela obediência a cânones (…), significará pouco menos do que uma condenação ao silêncio. Não me retenho porém de ver na dádiva dos que me acolhem no seu seio o atestado de que se cumpriu um requisito, e inclusive um perdão de um ou outro ímpeto mais transgressional”, declarou Mário Cláudio, no seu discurso de quatro páginas durante a sessão de atribuição do grau de Doutor Honoris Causa.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, esteve presente na cerimónia e confessou que se “convidou para a cerimónia” porque é um admirador do escritor “há décadas”.
“Em rigor eu não fui convidado. Eu convidei-me, porque sou admirador de Mário Cláudio desde sempre. Inclusive, apresentei, a meu ver, um dos melhores livros dele — ‘Camilo Broca’, sobre Camilo Castelo Branco — e além disso sou o Presidente da República e ele é um dos grandes escritores portugueses vivos. E portanto é uma homenagem pessoal e nacional”, assumiu Marcelo Rebelo de Sousa.
A concessão do título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Porto ao escritor Mário Cláudio partiu de uma proposta de 15 de maio deste ano, realizada pelo Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP).
Para a Universidade do Porto, Mário Cláudio “é hoje um dos escritores portugueses mais reconhecidos que conseguiu expandir a sua escrita fortemente motivada e motivadora da atenção que dedica à realidade e aos assuntos da sua terra natal a níveis que o levam a patamares de internacionalização literária e o tornam objeto de variadíssimas distinções a nível nacional e internacional”.
Mário Cláudio, o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, tem 78 anos, nasceu no Porto onde fez o ensino liceal no Colégio Almeida Garrett para depois ingressar na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Foi, todavia, na Universidade de Coimbra que completou a licenciatura em Direito, há 53 anos (1966). Foi também em Coimbra que em 1973 terminou o curso de Bibliotecário-Arquivista.
No ano de 1968, o escritor foi mobilizado para a guerra colonial na Guiné-Bissau, mas antes de partir entregou ao pai a sua primeira obra – “Ciclo de Cypris” (poesia) — e que foi publicada em 1969.
A obra “Tríptico da Salvação” é a mais recente e foi publicada este ano, mas o autor tem também no currículo as obras “Guilhermina” (1986), “Rosa” (1988), “A Quinta as Virtudes” (1990), “Tocata para Dois Clarins” (1992), “Dois Equinócios” (1996) ou o “O Pórtico da Glória” (1997), “Peregrinação de Barnabé das Índias”, 1998, “Camilo Broca”, 2006, “Boa Noite, Senhor Soares”, 2008, “Tiago Veiga: Uma Biografia”, 2011, “Retrato de Rapaz”, 2014, “Astronomia”, 2015, e “Tríptico da Salvação”, 2019.
Grande Prémio de Romance e Novela da APE/DGLAB por “Amadeo” e “Retrato de Rapaz”, em 1984 e 2014, o Prémio D. Diniz 2017 por “Astronomia” e o Prémio Pessoa (2004) pelo conjunto da obra são apenas algumas das distinções que recebeu ao longo dos 50 anos de carreira.
Foi também agraciado com as comendas da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2000), de Chevalier des Arts et des Lettres (2006) — atribuída pelo Ministério da Cultura de França — e da Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2019).
Comentários