“Em pouco mais de um ano, o que vivemos é um cenário de chantagem permanente com o país, numa aventura mais ou menos amparada por um Presidente [da República] que continua a sonhar com as condições que possam permitir o regresso da direita ao poder”, criticou a bloquista Marisa Matias.
A eurodeputada discursava na XIII Convenção Nacional do Bloco de Esquerda, que decorre hoje e domingo no pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, numa intervenção em que quis falar dos “mitos das maiorias absolutas” e propôs um “’descubra as diferenças’ com o único período da história em que a esquerda esteve em posição de influenciar o Governo”, referindo-se à ‘geringonça’.
“A governação a solo do PS, seguida da maioria absoluta, além do regresso ao alinhamento europeu sem cedências, rapidamente se converteu num travão às conquistas sociais e laborais iniciadas pela geringonça”, considerou.
Na opinião da bloquista, “o PS quis deixar a esquerda para trás para voltar ao seu modelo natural de governação e nem a prometida estabilidade política foi garantida”, salientando que “a maioria ainda nem vai a meio e já permitiu enterrar a falsidade de ser sinónimo de estabilidade”.
Marisa Matias lembrou outras maiorias absolutas no país, como as do social-democrata Aníbal Cavaco Silva ou do socialista José Sócrates.
“Alguém já se esqueceu das cargas policiais das maiorias de Cavaco Silva? Alguém já se esqueceu dos escândalos de corrupção da maioria de José Sócrates? Alguém já se esqueceu da austeridade e empobrecimento da maioria de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas? Alguém poderá esquecer as trapalhadas, a degradação dos serviços públicos e o favorecimento dos grupos económicos em tempos de inflação desta maioria de Costa?”, questionou.
A eurodeputada recuou aos tempos da ‘geringonça’ – período em que um executivo minoritário do PS contou com uma solução inédita de suporte parlamentar de PCP, BE e PEV, entre 2015 e 2021 – considerando que “apesar das limitações, a ‘geringonça’ permitiu colocar a política ao serviço das pessoas e garantir estabilidade governativa num contexto de enorme pressão das instituições europeias”.
A bloquista destacou, desse período, a interrupção “do ciclo de empobrecimento do país”, a “recuperação de rendimentos do trabalho e das pensões” e o “romper com políticas de austeridade”.
“Não foram possíveis mudanças estruturais nas leis laborais, na reposição da justiça social ou no desenvolvimento económico do país, mas sabemos hoje que o país ganhou com a ‘geringonça’”, concluiu.
A eurodeputada terminou a sua intervenção agradecendo à coordenadora cessante do BE: "Obrigada, obrigada de coração, Catarina Martins".
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