Ouça aqui o episódio do podcast Um Género de Conversa com Marisa Matias:
Marisa Matias doutorou-se em sociologia, fez investigação, deu aulas, publicou artigos científicos, mas acabou por fazer carreira na política, cumprindo atualmente o seu terceiro mandato como eurodeputada pelo Bloco de Esquerda. Defensora convicta do Estado Social, lembra os tempos de menina da aldeia, em que tinha de andar a pé vários quilómetros para ir à escola: “Sou totalmente defensora dos serviços públicos, sem eles eu não teria tido qualquer oportunidade de fazer a trajetória que fiz. Eu beneficiei das conquistas do 25 de abril, da implantação e da chegada da democracia ao país mais remoto”.
As conquistas da últimas décadas para a vida das mulheres foram precisamente o ponto de partida para estes 50 minutos de conversa com Patrícia Reis e Paula Cosme Pinto. “Ainda temos muito caminho para fazer. Não quero com isto menosprezar as conquistas feitas, que foram muitas e importantes. Mulheres seguramente em circunstâncias mais difíceis, que fizeram um caminho gigante, que nos deu condições de luta e de disputa de espaço público diferentes das que havia anteriormente”, explica a eurodeputada. “Mas também é verdade que, se há conquistas, há retrocessos, novas formas de desigualdade e de opressão. As conquistas não são adquiridas e estabilizadas permanentemente”.
Neste episódio, gravado em Estrasburgo, a convite do Parlamento Europeu, Marisa Matias pauta pela assertividade que lhe é característica: “As denúncias de assédio e agressões são poucas, seja no Parlamento, seja onde for. As que conhecemos serão sempre apenas a ponta do icebergue, e assim será enquanto não existir uma transformação profunda. Há um sistema que continua a tornar muito difícil a denúncia, é sempre um ato de coragem. Não creio que a política seja um espaço mais livre, a discriminação existe permanentemente”. Quanto à condescendência que tantas vezes lhe é dirigida a si e demais mulheres do BE, opta pelo humor: “As ‘meninas do Bloco’ também vão ficando mais velhas”.
Olha com “preocupação” para o crescimento da extrema-direita na Europa, mas não resiste a um pouco de ironia: “Entristece-me que uma das suas bengalas seja o ataque à chamada ideologia de género. Mas o que é que é isso? Alguém me explique, que eu não sei. Acho que ninguém sabe, nem mesmo quem a ataca”.
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