Inaugurada a 22 de abril de 2015, a exposição “Florestas Submersas” é uma das três do Oceanário de Lisboa, que celebra 25 anos a 22 de maio.
Inaugurado em 1998, por ocasião da exposição mundial de Lisboa sobre os oceanos, a “Expo 98”, o complexo do Oceanário recebe anualmente cerca de um milhão de visitantes.
A propósito da efeméride, a Lusa acompanhou os trabalhos de manutenção das “Florestas Submersas”, uma exposição que deveria durar três anos, mas está há oito aberta ao público e é ainda o maior “nature aquarium” do mundo, com 40 metros de comprimento e 160 mil litros de água.
A exposição é também “sem dúvida, uma homenagem a Takashi Amano”, um aquário “de autor, uma obra-prima viva” e “o único do mundo”, diz à Lusa Tiago Reis, biólogo marinho e responsável pelas florestas.
Licenciado em Biologia Marinha e Biotecnologia, Tiago Reis adianta outra justificação para que se mantenha o aquário: “O Oceanário de Lisboa acredita que podemos mudar as pessoas pelas emoções e não pela informação que lhes é dada. As pessoas, quando veem, é suposto terem uma experiência emocional e um momento mais introspetivo, para pensar no quanto devemos conservar as florestas, neste caso os ecossistemas marinhos”.
O aquário não tem de facto muita informação, mas tem bancos e sofás virados para as “florestas”. E dá muito trabalho. “Aqui mergulhamos todos os dias. Faz parte do nosso trabalho entrar dentro de água e fazer a manutenção” e tem de ser em mergulho, diz Maria João Silva, aquarista.
Mergulha-se todos os dias, dois a três mergulhos, 26 horas por semana, 8.500 horas desde 2015, o equivalente a um ano inteiro debaixo de água. Sempre depois das 6:00 e nunca após as 10:00, porque a essa hora tudo tem de estar arrumado para a chegada do público.
Maria João Silva, equipada de esponja, esquadro, arame, uma espécie de mangueira para aspirar, escova de dentes e um peso de 10 quilos à cintura para controlar os gestos dentro de água, poda uma “rotala ceylon”, corta as folhas velhas de uma “anubias nana”, plantas de água doce, faz o mesmo nos fetos “bolbitis”.
Pouco passa das 8:00. A aquarista limpa agora uma área do acrílico do aquário. Desta vez não usa a escova de dentes para limpar as rochas, mas limpa a areia a ajeita-a com o esquadro. Às 9:00, pontualmente, começa a música, composta por Rodrigo Leão e com o mesmo nome da exposição. Há já só uma hora para baixar paredes, tapar os bastidores e deixar à vista apenas as florestas e os seus peixes.
“Temos 50 projetores de luz de mil watts cada, para as plantas fazerem a fotossíntese. Por isso há criação de algas, todos os vidros têm de ser limpos de três em três dias”, justifica Tiago Reis.
E Maria João Silva precisa: Todos os dias limpamos os acrílicos e a areia, isso é fundamental. O resto depende da necessidade do aquário, há alturas em que fazemos podas, outras limpamos canteiros, fazemos trocas de plantas. Depende sempre do estado de cada zona e da necessidade do aquário”.
A tudo isto junta-se a mudança semanal de 15% da água do aquário, a reposição de peixes. Tiago Reis dá o exemplo dos camarões Amano, 10 mil colocados na altura, que ajudam a manter o aquário limpo. São ao todo 46 espécies de plantas, 40 espécies de peixes, cerca de 10 mil peixes, “e todos eles são indispensáveis para o ecossistema funcionar”, diz Tiago Reis.
Tudo como Takashi Amano idealizou. Foi fotógrafo e aquariofilista. Viajou e fotografou quase todas as florestas tropicais e criou a empresa “Aqua Design Amano”, dando vida a aquários de água doce únicos, uma forma de arte, de técnicas e filosofias novas.
Já doente, aceitou fazer uma última obra, as florestas de Lisboa, sempre acompanhado de um médico. Morreria no Japão pouco mais de três meses após a inauguração. A empresa ficou e foi com ela que Tiago Reis aprendeu a manutenção do aquário.
A “Aqua Design Amano” já não está no aquário. Mas ainda lá estão os troncos de madeira, que vieram da Malásia e da Escócia, escolhidos pelo próprio Takashi Amano, as 26 toneladas de rochas vulcânicas dos Açores.
“As plantas são as mesmas porque utilizamos métodos para as replantar. Quando atingem um tamanho que já não está de acordo com o ‘layout’ que Takashi Amano idealizou, nós reduzimos o seu tamanho e voltamos a replantar, de forma a termos uma paisagem saudável, luxuriante e agradável acima de tudo”, diz Tiago Reis.
O responsável salienta que nem se podia mudar nada do que foi idealizado, porque assim se retirava o encanto da obra de Amano, uma recriação das florestas que viu por todo o mundo para “chamar a atenção das pessoas para os problemas das florestas tropicais”.
“Takashi Amano acreditava que, se observarmos a natureza, podemos aprender melhor a protegê-la. E o Oceanário acha que é importante chamar a atenção para a conservação destes locais, que têm 50% de toda a biodiversidade animal e vegetal do planeta”, diz Tiago Reis à Lusa, salientando que ali também foi usada a filosofia japonesa “wabi sabi”, de destacar “a beleza da imperfeição e as assimetrias”.
São assim, imperfeitas, as florestas submersas, idealizadas para três anos e sem previsão para terminar. São assim, imperfeitamente arrumadas todas as manhãs, para que ao bater das 10:00, como nos teatros, mas ao contrário, se fechem as cortinas de acesso aos bastidores e o público entre, que a música, essa, já toca há uma hora.
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