Ao contrário da sede de campanha do PS (Partido Socialista), o quartel-general da AD (Aliança Democrática), no Marquês de Pombal, esteve sempre com excesso de militantes, que permaneceram em pé quase toda a noite em conjunto com as dezenas de jornalistas, entre eles vários internacionais, numa sala em que se falava quase tanto português como outras línguas.
Depois da celebração de casa cheia após as primeiras projeções, a incerteza marcaria o resto da noite, mas nunca o desânimo.
O primeiro a reagir no EPIC SANA Marquês, em Lisboa, seria o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, por vota das 20h30. Na altura garantia-se a aparente “vitória da AD” e “um dos piores resultados de sempre da esquerda". Entre os aplausos e os gritos por "Portugal! Portugal!", os militantes do PSD, CDS-PP e PPM, que compõem a coligação vencedora, teriam de esperar até à madrugada para a festa total.
Depois do discurso, a sala dispersou e a dúvida instalou-se. Parecia emergir um problema já previsto, e começava a sentir-se a subida do ADN (Alternativa Democrática Nacional), que acabaria por ultrapassar os mais de 100 mil votos esta noite. Nos corredores ouvia-se: "O ADN tirou-nos as eleições".
A noite ainda ficaria marcada por um grupo de ativistas a pintar a porta do hotel e a serem detidos no local, algo a que, no geral, se deu pouca importância no sala de conferências. "Eu disse que andavam aí comunistas", dizia um apoiante entre risos.
Pelas 22h40, discursava António Costa na sede do PS, e na sede de campanha da AD reinava o silêncio, com paragens ocasionais para protestos aos momentos em que a posição do ainda primeiro-ministro divergia da audiência, nomeadamente quando a derrota prevista nas primeiras projeções não foi admitida por António Costa. "Há praticamente um empate entre o PS e a AD e em termos de votos há uma proximidade muito grande", dizia Costa na altura.
O espírito mudaria positivamente mais de uma hora depois, quando por volta das 23h55 se confirmou a vitória no Porto, onde a coligação acabaria por eleger 14 deputados. Nesta altura, já não se conseguia esticar um braço no meio da multidão, tal era o número de apoiantes dos três partidos dentro da sala. Não havia um espaço livre e assim ficaria com centenas de pessoas em pé até ao fim da noite.
A confirmação final da vitória seria dada pelo líder do CDS, Nuno Melo, que dizia às 00h00 em ponto: "Com os dados que temos, podemos dizer que a Aliança Democrática venceu estas eleições!".
Celebrou ainda o momento histórico em que o seu partido regressa à Assembleia da República. "O CDS regressou à Assembleia da República, de onde nunca devia ter saído", declarou.
Entre o discurso de Nuno Melo e Luís Montenegro ainda houve tempo para a exaltação na sala com o discurso de Pedro Nuno Santos, recebido com insultos por grande parte da audiência e gritos de protesto às políticas do partido do governo. O aplauso foi, porém, particularmente sonoro quando Pedro Nuno Santos assumiu a derrota.
"Apesar da diferença tangencial entre nós e a AD, e sem desrespeitar os votos e os eleitores dos círculos eleitorais das nossas comunidades, tudo indica que o resultado não permitirá ao PS ser o partido mais votado", afirmou o secretário-geral dos socialistas.
“O PS será oposição. Nós vamos liderar a oposição. Seremos oposição, renovaremos o partido e procuraremos recuperar os portugueses descontentes com o PS. Essa é a nossa tarefa daqui para a frente”, frisou, tendo referido antes que o PS está "forte e unido, pronto para os combates que temos pela frente".
A chegada de Luís Montenegro aconteceria já às 00h50, após a confirmação da vitória no concelho de Lisboa, tendo sido recebido com o hino que marcou a campanha e ao lado de Nuno Melo e Gonçalo da Câmara Pereira, líder do PPM (Partido Popular Monárquico).
Depois de ter começado a falar com alguma dificuldade, tal era a euforia dos apoiantes, com bandeiras que iam do PSD e CDS à bandeira monárquica, o líder da coligação começou por agradecer aos portugueses, num discurso que duraria cerca de 20 minutos.
De seguida, entre os gritos "Portugal, Portugal, Portugal", Montenegro falou nos resultados e na abstenção e frisou que todos os candidatos ajudaram a recuperar "a participação dos portugueses nas eleições".
Sintetizou a noite assim: "Parece incontornável que a Aliança Democrática ganhou as eleições e o Partido Socialista perdeu as eleições"."Os portugueses disseram, em primeiro lugar, que queriam mudar de governo; em segundo lugar, que queriam mudar de políticas". E acrescentou a terceira conclusão que tirou da noite: que "querem a renovação dos grandes partidos".
Rematou dizendo ainda que agora está nas mãos do presidente da República o ato de o "indigitar para formar governo".
O momento mais aplaudido na sala foi quando o íder social-democrata declarou que esperava que PS e Chega “não constituam uma aliança negativa para impedir o Governo que os portugueses quiseram”, ao mesmo tempo que reafirmou a recusa de entendimentos com o partido de André Ventura.
Mais tarde, questionado pela CNN Portugal, na parte das perguntas aos jornalistas, admitiria ainda que não tinha falado com Ventura depois de se confirmar a vitória da sua coligação.
A noite terminaria com 79 deputados eleitos pela AD, num serão que durou até de madrugada.
Como factos a retirar desta noite eleitoral, vale notar que desta vez, em relação à eleição anterior, 2022, antes de se saber os votos dos círculos da emigração, PSD e CDS contaram conjuntamente com 30,89% dos votos, valor inferior aos 29,49% deste ano.
Ainda assim, a AD consegue reconquistar 10 distritos ao PS: todos os distritos do Norte (Viana do Castelo, Braga, Vila Real, Bragança, Porto, Aveiro, Viseu e Guarda), Leiria e Açores, num mapa que desta vez fica novamente mais laranja. Portalegre foi o único círculo em que a coligação não elegeu qualquer deputado, o que acontecedes de 2015 (na altura com a coligação Portugal à Frente).
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